terça-feira, maio 23, 2006

Uma pausa na vida

A mim tudo me acontece (eu sei que aos outros também, mas com o mal dos outros...). E quando acontece, acontece tudo em simultâneo, de forma a não deixar tempo nem espaço para reacções maduras ou ponderadas.

Em Março deparei-me com uma das piores situações por que já passei: uma pessoa essencial para mim teve um grave acidente de carro e quase a perdi. Mesmo. Sem negociações. Sem volta. Por milagre (palavras dos neurocirurgiões que acompanharam a situação), o caso resumiu-se a 2 semanas no hospital, em permanente vigilância, e a uma série de limitações (reversíveis a longo prazo) na vida do dia-a-dia.
Não consigo começar a explicar como foi viver uma situação que só acontece aos outros. Parece que tudo pára, desligamo-nos do mundo e passamos a ver a nossa vida como se num ecrã, projectada para visionamento de terceiros. Uns interessados em ajudar, outros interessados. Interessados na situação, nas novidades, interessados em estar dentro do acontecimento para depois o relatar, interessados no circo que pegou fogo. E, em segundos, nós temos de aprender a gerir a vida com determinação e sem dramas, enquanto tentamos manter à cabeça à tona para sobreviver a algo que sabemos deixar marcas permanentes. A passar dias a rezar e noites a chorar, a dormir numa cama vazia de emoções.

Agora que já respiro com mais facilidade, ficou a certeza: odeio carros, odeio ralis, odeio velocidade e a necessidade de adrenalina que parece mover a minha metade mais simpática e divertida. Deixo apenas uma mensagem: não me deixes. Não assim, não de uma forma tão estúpida e brutal. Preserva-te, porque eu preciso de ti.

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