segunda-feira, dezembro 31, 2007

Os trintões e o ninho

Alguém mais experiente me disse há dias que eu ainda era uma adolescente. Do alto dos meus 33 anos julguei que, das duas uma: ou ele estava a gozar com a minha cara, ou eu finalmente tinha aprendido a dominar a fantástica arte da maquilhagem. Afinal, nenhuma das duas. Explicada a situação, revelou-se a seguinte teoria: no nosso tempo, a adolescência acaba aos trinta, já que esta é a altura em que os “jovens” finalmente saem de casa dos pais. Inteligente, não? Eu acrescentaria que muitos voltam a correr para lá quando se deparam com o crescente número de contas, recibos, facturas, juros, spreads, taxas, inflações, Euribors, e um rodopio de euros que teimam em escapar-se das carteiras.

Desabafo à parte, achei piada à ideia. É a verdade por trás da piada que me entristece. De todas as pessoas que conheço (e falo, obviamente, das da minha geração ou mais novas), nenhuma é completamente independente. Nenhuma conseguiu tudo o que tem por si só. Nem uma. Mesmo os que têm casa própria, às vezes com filhos, dependem da ajuda, mais ou menos velada, dos pais e/ou familiares. Não sei bem o que pensar disto. Sei que os meus pais casaram com 19 e 26 anos, e que cinco anos mais tarde tinham 3 filhos, uma casa e um carro. Mas, mais que tudo, tinham uma vida totalmente independente. Assim como a maior parte das pessoas da sua geração e anteriores. Não eram melhores nem piores que nós. A vida simplesmente acontecia, as pessoas trabalhavam e era possível. O quê que se passa hoje em dia?

- Somos nós que nos recusamos a voar?
.É tão bom ter a roupinha lavada e passada (que é como eu fico quando pego no ferro), tão bom não ter de se preocupar com as compras do mês (estranhamente, o frigorífico não se enche por si só e a fruta custa bem mais do que se poderia pensar), tão bom poder gastar horrores em roupas e saídas e ainda ficar com um extra para o pé-de-meia…
.E o que dizer de quem tem casa e faz dos pais respectivamente empregada doméstica e banco? A casa é outra, mas quem arruma, cozinha e paga as contas são as mesmas pessoas. Estranha independência, estranhos adultos.

- São os pais que acarinham esta dependência dos seus rebentos?
.Deve ser bom continuar a sentir-se necessário, essencial mesmo;
.Deve ser bom poder continuar a opinar sobre a vida de quem nos é mais querido, poder continuar a dizer aos seus amigos “ele/a ainda é um/a miúdo/a” e “precisa de mim”;
.Numa versão mais agressiva, poder dizer aos amigos dele/a “ele/a não consegue safar-se sozinho/a” e “dele/a não, meu.”.

- É a sociedade, que castra os sonhos e vidas dos seus constituintes, impondo-lhes tributos económicos e regras sociais que os escravizam até ao final dos seus dias?

Tristemente, parece-me ser uma mistura dos três. E não vislumbro solução à vista. Queria ver um futuro diferente, mais parecido com o que projectava aos 15 anos. Não queria fazer parte da geração que aos 30 ainda é adolescente. Mas também não queria ter de pagar a minha casa até aos 70.
E já não me lembro a que foi exactamente que achei tanta piada.

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segunda-feira, dezembro 24, 2007

Coisas que odeio - II

ODEIO que me perguntem porquê que ainda não tenho filhos ou quando é que penso começar a tê-los.

Às vezes estou a meio de uma qualquer conversa inteligente com alguém que até considero sensato e interessante e, de repente, lá vem a pergunta: “E filhos?”, ao que eu respondo, “Não, obrigada.”, ficando sempre com a sensação que me estão a tentar impingir a criaturinha cujos berros servem de fundo ao diálogo.
Apetece-me sempre contrapor com uma pergunta tipo “E saídas, cinema, teatro, viagens?” ou “E livros, banhos de espuma, formações?”, só para os ouvir responder “Ah… agora já não dá. Sabes como é, os filhos mudam tudo...”.

É como se o instinto maternal fosse um qualquer vírus que todos têm de apanhar a certa idade e ninguém percebe como é que eu ainda não o apanhei. O espanto é genuíno. “A séeerio?”, dizem, quando explico que nunca, desde que me conheço como mulher, tive o menor desejo de aconchegar criancinhas ao peito. “Isso é tão estranho.”, acrescentam, “Sobretudo numa mulher.”. E é isto o que me lixa mais. Se um homem diz que não quer ter filhos ninguém o olha como se fosse leproso ou emocionalmente incapaz, mas uma mulher?... Deve existir alguma coisa de muito errado com ela para não desejar ter uma ninhada de adoráveis anjos a sugar-lhe anos de vida a cada grito de “Ó mã-nhe!” (sim, pronunciado assim mesmo, que eu sou do Minho), para não querer abdicar de ser a “Paula” para passar a ser a mãe da “Joaninha”.

Mas pronto, não vou dizer que de vez em quando não me passa pela ideia espetar uma almofada por baixo da camisola e imaginar como ficaria com um adorável macacão de ganga (é a única altura em que uma mulher adulta os pode usar sem fazer figuras tristes – a não ser que seja professora de trabalhos manuais). Quando isso acontece, faço questão de visitar uma das minhas amigas mamãs; depois é só esperar que a vontade passe à força de queixas, choro e birras intermináveis. Nunca falha.

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segunda-feira, dezembro 17, 2007

Porquê que não caem de uma vez?

Sabem aqueles pesadelos que as pessoas têm com dentes, e que muita gente diz significarem morte de parentes? No meu caso, significam exactamente aquilo que são: pesadelos com dentes. A única diferença é que eu não costumo estar a dormir quando os tenho.

De facto, desde muito cedo me convenci de que seria bem melhor que os meus dentes caíssem todos de uma só vez, para fazer aquela fantástica operação que consiste em espetar parafusos no osso por baixo das gengivas e atarrachar um conjunto de perfeitos dentes de cerâmica, que asseguram um alinhado e brilhante sorriso Pepsodent. Assim, apesar do sofrimento excruciante, ficaria finalmente com uma figura tipo Kate Moss (já experimentaram comer após uma intervenção cirúrgica à boca? Garanto-vos que, apesar de hilariante para quem assiste, não tem piada nenhuma para quem o tenta) e acabava com esta história de ser um case study para todos os dentistas que tive o prazer (?) de conhecer.
É verdade, eu sou uma história dentária em permanente evolução, com novidades sempre à espera de acontecer. Quem me conhece já se ri cada vez que eu vou ao dentista, e de lá volto com menos uns bons maços de notas e com mais uma extensa lista de procedimentos que terei de levar a cabo sob ameaça de:

a) Em poucos anos se acentuar a mordida projectada, que me faria parecer a versão humana de um cavalo de corrida (apesar de útil quando se trata de mordiscar cenouras, tenho a certeza de que em nada me favoreceria, esteticamente falando).
»Solução: 2 anos de aparelho fixo colocado por um incompetente + 4 dentes do siso extraídos à força de martelada (estavam a nascer atravessados…) + 4 pré-molares arrancados para nova colocação de aparelho fixo (sim, outros 2 anos).

b) Em poucos anos se acentuar a redução crónica das gengivas/osso, que resultaria no facto de me caírem todos os dentes, aparentemente nos momentos mais inoportunos (pelo menos, a julgar pelas histórias que me contaram – é que há sempre um parente, amigo, ódio de estimação, que sofre do mesmo).
»Solução: quatro operações consecutivas para colocação de tecido gengival, que consistiram em retirar “matéria-prima” do céu-da-boca e cozê-la junto aos dentes problemáticos (sim, é tão doloroso e traumatizante quanto parece).

c) Em poucos anos se acentuar de tal forma o problema de bruxismo de que padeço (aparentemente, ranjo os dentes com uma força que seria capaz de elevar uma pessoa com cerca de 50 kg… impressionante, não?), que não só a minha imponente e dispendiosa dentadura ficaria reduzida em dois, como os meus maxilares e todos os músculos que os controlam se inflamariam e deformariam o meu adorável rosto.
(esta é a última, descoberta numa visita a um dentista de topo – isto é, que leva somas exorbitantes de dinheiro apenas para olhar para a causa dos meus problemas monetários).
»Solução – comprar uma goteira de €450 que tenho de passar a utilizar todas as noites (escusado será dizer que vai ser difícil ter conversas de cabeceira minimamente sensuais quando tudo o que se diz soa algo como “Gosssto quando me tocasss atsssim…deissa-me muito essitada…”) + consultas frequentes ao especialista, que insiste em me fazer electroterapia para reduzir o stress que causou o problema (segundo ele diz, em substituição das sessões de massagens e SPAs que deveria fazer regularmente e não posso…esta doeu mais que tudo).

Se a tudo isto juntarmos as fotos que todos os dentistas insistem em tirar à minha boca, dentes e gengivas, o facto de me considerarem material didáctico e o dinheiro com que estou a contribuir para a construção de piscinas e campos de ténis (se eu tiver um filho, vai para dentista!), percebe-se bem o ódio que começo a ter a uma das minhas mais marcantes características: a boca rasgada cheia de dentes.

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terça-feira, dezembro 11, 2007

O Clube da Pila

Eu já sabia que o Clube dos (verdadeiros) cavalheiros há muito tinha os dias contados. O que não sabia é que estava a ser substituído pelo Clube da Pila. A desconfiança era forte, mas custava-me a acreditar que o cérebro fosse preterido em favor de um qualquer apêndice mais ou menos imponente (diga-se que os membros deste clube, ainda que possam ser bem dotados do mesmo, parecem revelar uma notória diminuição do par que participa mas não entra).
Mas é verdade. E, no que me diz respeito, inquestionável. Existe um clube, reservado a membros do sexo masculino, que está a proliferar nas empresas e, apesar de mais notório e detectável no Norte do País, duvido que não se tenha infiltrado também no Centro e Sul. Este clube consiste basicamente em filtrar os colaboradores, não pela sua inteligência, competência, disponibilidade ou resultados que aportam à empresa, mas por aquilo que lhes foi atribuído pela lotaria genética, quando, ainda girinos, nadavam no ventre da mãe. Sim, sim, pelo facto de terem ou não um “pilau e um par de tintins” (gosto sempre de apresentar as novas abordagens de nome para as nossas partes pudibundas).

A mim, que nunca invejei o sexo oposto (contrariamente ao que afirmou Freud, nunca recolhi qualquer prova de que as mulheres invejam os pénis – quanto mais não seja, desejam-nos, mas quando se fala em trocas… não, obrigada), isto desperta 2 sentimentos muito fortes e contraditórios:
- Raiva – por continuar a existir um grupo fechado e retrógrado de homens que se recusam a ver as mulheres como iguais. Mais, que quando confrontados com mulheres profissionalmente superiores, têm verdadeiros ataques de cegueira histérica, preterindo-as em favor de indivíduos cuja principal característica é serem lambe-botas profissionais (e pode substituir-se “botas” por qualquer outro substantivo que venha à cabeça quando se pensa neste tipo de pessoas). Escusado será dizer que estes indivíduos passam a ser membros efectivos do clube que dá nome a este post, com todas as regalias que lhe estão inerentes. E assim se prolonga o ciclo.
- Admiração – por todas as mulheres que conseguem quebrar esta tradição, trabalhando mais e melhor que os seus “colegas”, demolindo os entraves com sucessos inegáveis, e demonstrando uma força de vontade inquebrável perante todos os “pilas” que se lhes atravessam ao caminho. Parabéns.

Mas que não haja enganos: sei que há homens extremamente competentes, que merecem tudo aquilo que a vida lhes dá (tive o prazer e a honra de trabalhar com pelo menos um – ainda hoje estou para encontrar pessoa mais competente na área em que me movo). O que me tira do sério são aqueles que sobem sem grande esforço, simulando de forma por vezes verdadeiramente patética o volume e qualidade do trabalho que fazem, e deixando para trás profissionais excepcionais que pagam o preço de serem mulheres. Mulheres dirigidas por indivíduos que ainda pensam que o seu lugar seria numa cozinha ou num berçário, nunca numa mesa de Administração.

Dá vontade de criar um Clube da Vagina (eu sei que existem designações bem mais pitorescas e bem mais em linha com o nome do clube rival, mas esta serve o propósito), actuando como lobbie junto de todas as empresas dirigidas por mulheres (são cada vez mais – daí o medo furioso que ataca os homens nas mesmas condições), e assegurando que a cada novo colaborador admitido se desse à partida 2 hipóteses:
- assumir-se como escravo, trabalhando quatro vezes mais que as suas colegas, na vã esperança de ser reconhecido apenas pelo seu trabalho;
- comprar um tesoura e, mediante uma pequena intervenção caseira, ver-se livre do “peso morto” que o impede de subir na empresa.
Não é justo, pois não? Não. Mas daria um certo gostinho de vingança a muitas de nós ver os papéis invertidos.

(foi um desabafoJ)

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segunda-feira, dezembro 10, 2007

2007.12.04 - A minha tattoo

Sim, é verdade: passados cerca de 15 anos da firme decisão que tomei de fazer uma tatuagem, acabei mesmo por avançar. E porquê que demorou tanto tempo? Porque nasci a 15 de Agosto. Só por isso.

Eu explico: desde cedo decidi que a dita tatuagem deveria ser algo intrínseco, que reflectisse a minha personalidade. Algo imutável, independentemente dos anos que passassem e das alegrias e tristezas que me fossem moldando. Sim, porque eu sempre fui bastante perspicaz. No meu íntimo sabia que, se aos 15 ou 16 anos me parecia pertinente tatuar o ícone dos “Guns n’ Roses” nas costas, a probabilidade era que aos 30 “Out ta get me” já não fosse a banda sonora da minha vida.
Depois de algumas hesitações (a cabeleira do Slash não se descarta à primeira!), a solução revelou-se até bastante simples: o meu signo, com cuja essência eu me identifico de alma e coração. Assim mesmo.
Mal eu sabia que ia começar aí o meu martírio. É que, em vez de ser escorpião, caranguejo, peixes ou qualquer outro signo aquático destinado a ser transformado numa linda pintura corporal, eu sou leão. E este poderoso animal é tão elegante, gracioso e imponente quando passeia o seu corpo musculado pela colorida selva africana, como pesado, ostensivo e “viril” (leia-se “muito piroso”) quando aplicado numa qualquer área do corpo humano. Eu bem corri todos os livros e ilustrações de que me lembrava (sim, sim, eu ainda me lembro de quando não tinha acesso à Internet… nem sabia bem o que isso era), mas nada. Foram anos de leões extremamente realistas, com a juba ao vento, garras em riste, rugido na garganta, dentes a pingar saliva e língua brilhante antevendo o sabor da gazela… enfim, nada do simbolismo gráfico e minimalista que eu pretendia (o mais aproximado que descobri foi um espécie de espermatozóide de cabeça gigante e rabo ondeado que, supostamente, simbolizaria o signo de leão numa qualquer linguagem mística – escusado será dizer que não me apeteceu nada aguentar o peso de ter explicar o porquê de um espermatozóide tatuado fosse onde fosse. E ainda alguém me há-de explicar o quê que uma coisa tem a ver com a outra, porque eu, por muito imaginativa que me considere, não consigo chegar lá).

Só aos 32 anos, espicaçada por uma amiga tatuada, é que voltei a pegar neste assunto com garras e presas e descobri (após uma extensa pesquisa na … Internet) aquilo que eu pretendia: uma pequena onda em forma de “U” invertido, estilizada e deliciosamente feminina, que representa…o signo “Leão”. E pronto. Cá estou eu, com a minha tattoo novinha em folha, emergindo junto a dois pequenos sinais (preciosismo do tatuador) e estrategicamente posicionada na base da nuca. Sim, naquela curvinha sexy que separa as costas do pescoço, e na qual dá sempre vontade de deixar depositados uns beijitos. E, sim, a escolha do local foi propositada.

(nota: gostei tanto da experiência – a dor e o prazer, como se sabe, caminham lado a lado – que já estou a pensar na próxima)

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sexta-feira, dezembro 07, 2007

Coisas que odeio - I

Sei que tenho a aparência de alguém calmo e ponderado, mas a verdade é que me esforço nesse sentido, tendo visto de perto o que acontece quando se dá largas a um mau feitio crónico. Quando me apetece arrancar todos os cabelos com uma pinça e partir para a ignorância esgrimindo garras afiadas, partindo peças mais ou menos valiosas e fazendo tiro ao alvo com telemóveis, agrafadores e quaisquer outros objectos que se encontrem à mão, respiro fundo e conto até dez (ou espero até que o véu vermelho que me tolda a visão caia por terra). Às vezes consigo, outras nem tanto…
Hoje apetece-me desabafar, falar de uma das inúmeras coisas que odeio (e são muitas...).

ODEIO passar a ferro! Eu até me considero minimamente destra nas tarefas domésticas. Pareço é ter uma incapacidade crónica para esta tarefa doméstica específica, que, para me irritar ainda mais, até parece relativamente simples quando observo alguém a fazê-la.
Recapitulando: montar a tábua, ligar o ferro, colocar a peça de roupa na primeira e passar o segundo para trás e para a frente até as rugas desaparecerem Fácil, certo? Errado! No meu caso, acontece mais ou menos assim:
- Preparo-me psicologicamente, convencendo-me que se as outras pessoas conseguem fazê-lo, eu também vou conseguir (isto apesar da História indicar o contrário).
- Executo as 3 primeiras fases (isso faço muito bemJ).
- Começo a passar a peça de roupa (qualquer peça de roupa) numa área estrategicamente seleccionada - até aqui perfeito: fica lisinha, tal como pretendido.
- Passo para o outro lado e, subitamente, qual revolução silenciosa, todos as rugas e vincos migram para a área já passada.
- Volto à zona inicial, procurando matar novamente os insurgentes, caçando-os impiedosamente com o vapor ligado no máximo para que não voltem a erguer-se. Mas voltam.
- E assim sucessivamente, de um lado para o outro, de um lado para o outro, durante mais ou menos 3 minutos.
- É então que o meu cabelo começa a eriçar-se em bloco, os meus dentes a rilhar e que me começo a sentir uma verdadeira incompetente, incapaz de fazer a mais simples das tarefas.
- Num segundo, a raiva assume o controlo e fico bem perto de arrancar o fio da tomada à dentada, atirar o ferro pela janela mais próxima e esticar a peça de roupa à força de pontapés.
- Mais ou menos 10 segundos depois começam a escorrer lágrimas de frustração.
- Acabo invariavelmente no chão, desgrenhada e inconsolável, a assumir a derrota no centro de uma série de peças de roupa ainda mais engelhadas que no início do processo.
Felizmente que existem pessoas com bem mais jeito que eu, que acedem em resolver o problema. Assim, com 2 linhas num post it, asseguro que a dita roupa se encontra passada e dobrada, como nova, quando volto a caso no final de um dia de trabalho. Mas isto não evita que eu fuja como louca de calças de linho, camisas de seda e quaisquer outras peças que me lembrem sequer de tábuas e ferros de passar.

E é basicamente por isso que nunca vou ser chique. Porque odeio passar a ferro.

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segunda-feira, dezembro 03, 2007

Medo

Ainda me lembro de quando não sabia bem o que era o medo. Ou melhor, lembro-me de quando pouco me assustava porque sempre tive quem me protegesse. Independentemente do que acontecesse, do que corresse mal, das aventuras em que me metesse, das estupidezes que arriscasse fazer, tinha sempre a rede de segurança, o apoio seguro e infalível.
E, de repente, tudo mudou. E eu, tão adulta que já era, tão segura e independente, voltei a ser uma miúda assustada, à espera de alguém que a ampare, que lhe diga que está tudo bem. E choro, como nunca chorei. De desespero e frustração, de pensar nesse “nunca mais” que não consigo aceitar, de recordar cada momento, bons e maus, de desejar ter dito bem mais ou não ter dito tanto, e de pensar que as coisas podiam ter sido bem melhores, bem mais felizes.

Nunca pensei seriamente na possibilidade de que a morte me pudesse acontecer. A mim. Citando o lugar-comum, “parece sempre que estas coisas só acontecem aos outros”. Ouvimos falar do irmão de fulano e do avô de sicrano e temos pena, dizemos “coitado” e “os meus mais sinceros sentimentos”, nunca sequer ponderando a inevitabilidade de um dia sermos nós o alguém de quem falam, de sermos nós os “coitados”. E é impressionante a certeza dessa negação, dessa cegueira. Acredito ser uma forma de preservação, talvez estejamos programados para pensar assim. Acredito que sim, caso contrário como conseguiríamos viver? Por mim, respondo: com medo. Acima de tudo, actualmente sinto medo. De perder aquilo que realmente interessa, os meus pilares, a minha força. De me perder.

Sábado, alguém que me é querido, passando por uma situação idêntica, dizia “Temos de começar a pensar que isto acontece…é quase uma prova de que estamos mesmo a crescer.”. Assim, como se fosse um rito de passagem, algo em que temos de pensar e aceitar para chegar ao próximo nível da vida. E eu, a pensar que já era “crescida”, fiquei aterrorizada perante uma verdade tão simples. E só quero que este ano horrível termine de uma vez.

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