segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Do que tu precisas sei eu

No mundo do trabalho predomina a ideia generalizada de que qualquer mulher que se mostre mais assertiva e implacável na defesa das suas convicções está a ser negligenciada em casa. Isso mesmo. Enquanto um homem que dê dois murros na mesa quando é preciso é considerado bom profissional, determinado e eficiente, uma mulher é vista como insegura, histérica e necessitada das atenções masculinas (estou a tentar tornear a situação, mas a verdade é que a consideram mesmo mal comida).

Senhores (e senhoras, que há algumas que alinham pela mesma bitola), por muito que vos custe admitir, há mulheres que têm uma personalidade forte e combativa. Só isso. Por norma, são as que chegam mais longe, as que têm de lidar com homens como seus subordinados, e as que, por isso mesmo, se expõem mais a comentários maldosos de quem não consegue suportar ver um espécime do sexo feminino chegar tão longe. E sobretudo ter de aceitar e implementar as suas ideias.

Aceitem as coisas tal como são: de facto, as mulheres, tal como os homens, sofrem com mau sexo (ou com a inexistência do mesmo). E tal situação pode, de facto, reflectir-se noutras áreas da sua vida. No entanto, não podem recorrer a esta desculpa sempre que não conseguirem argumentar de forma capaz ou tiverem de vergar as costas perante uma pessoa hierarquicamente superior. Há que, pelo menos, colocar a hipótese de a pessoa em questão estar a fazer exactamente aquilo para que lhe pagam: defender as ideias em que acredita e promover a sua implementação, da melhor forma que é capaz, e dentro dos traços que definem a sua personalidade.

E pode ainda acontecer que a dita pessoa esteja plenamente realizada sexualmente. São raras as que se podem gabar disso, eu sei. Mas, a ser assim, de quem é então a culpa?

Nota – Livrem-se de pensar “Do que ela precisa sei eu…”.

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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Quando os sonhos faziam sentido.

Quando é que paramos de sonhar? Quando é que os sonhos deixam de fazer sentido e passamos a aceitar a realidade pelo que ela é? Para mim, foi por volta dos 25 anos. Foi por essa altura que descobri que mesmo que os sonhos se concretizem, isso não significa que correspondam às nossas expectativas. Foi por essa altura que dei por mim a pensar “Cuidado com o que desejas…”. E, quando esta sensação se tornou omnipresente, sonhar deixou de fazer sentido.

Eu lembro-me de saber exactamente o que queria, quando o queria e como proceder para o obter. Lembro-me de lutar para tornar os meus sonhos realidade, e lembro-me de o conseguir. Neste momento, continuo a ter algumas expectativas, a fazer alguns planos, só que ficam no mundo teórico, simplesmente não acredito que se venham a concretizar. Assim, vou aceitando aquilo que a vida me atira, às vezes mais revoltada, outras vezes mais conformada, mas sempre com um gosto amargo na boca. É que eu nunca me preocupei especialmente com a passagem dos anos, nem com o acumular da idade, mas confesso que esta perda da capacidade de sonhar me preocupa. Entristece-me que cada vez se torne mais difícil projectar o futuro, que cada vez acredite menos nas minhas próprias ideias, na minha vida tal como a imaginei.

Hoje percebo as pessoas que me diziam “Quem me dera ter a tua idade e saber o que sei hoje”. De facto, talvez mudasse muitos dos meus planos, talvez as minhas decisões não fossem as mesmas, talvez o meu rumo fosse totalmente diferente. Evitaria, de certeza, muitas desilusões. Mas, ainda assim, o que eu queria mesmo era voltar a acreditar que o mundo pode ser meu, que a profissão ansiada depende apenas da força de vontade, que o amor perfeito está ao virar da esquina, prontinho para se deixar encontrar. É, eu queria saber tudo o que sei hoje, mas também queria manter a ingenuidade essencial para se ser um pouquinho feliz. Não percebo porquê que uma coisa tem de invalidar a outra.

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segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Não faço ideia

Parece que os homens nunca sabem bem o que se está a passar à sua volta. Até têm uma ideia geral, mas faltam-lhes os pequenos detalhes, aqueles que para nós fazem toda a diferença. Por exemplo: contam-nos que o seu grande amigo está a trabalhar num banco como director geral, mas à pergunta “E está a gostar?”, respondem “Não faço ideia.”. Ora, se eu fizer uma pergunta semelhante a qualquer mulher vou ficar a saber não só a evolução dos sentimentos do dito amigo relativamente ao novo trabalho, desde o dia em que entrou até ao dia anterior a ter colocado a pergunta, como também serei extensamente informada acerca de como está a reagir a sua namorada e qual o impacto desta viragem profissional na relação de ambos.

Isto baralha-me: qual o porquê por trás destas diferenças tão acentuadas? Será que nas suas conversas os homens se limitam a acumular factos, sem questionar quais as razões por trás dos mesmos e quais as reacções que estes provocam? Será possível que não haja o mínimo de curiosidade? Eu fico sempre impressionadíssima com a leveza com que um homem admite que não se importou o suficiente para tentar saber um ou outro “pormenor” (que, na maior parte das vezes, é mais importante que a própria história). É como se, realmente, não percebessem o interesse da questão: ficam a olhar para nós com um ar de “mas a propósito de quê é que eu ia perguntar isso?”, e ainda nos deixam a pensar que devemos ser, de facto, bastante coscuvilheiras.

A mim, custa-me a aceitar que sejamos assim tão opostos. Parece-me muito pouco provável que só as mulheres se importem com “essas coisas” e que seja verídica a crença generalizada de que os homens, quando juntos, se limitam a falar de mulheres e futebol. O que me leva a questionar se esta diferença não resultará de uma de 2 coisas: um qualquer resquício misógino que leva a que eles ainda tenham receio de perguntar seja o que for que envolva sentimentos (não vá o outro interveniente da conversa pensar “És mesmo gaja.”), ou um receio (justificado?) de nos contarem tudo o que sabem.

Eu desconfio de qual será a resposta, mas por enquanto esta continua a ser uma pergunta retórica (uma vez que ninguém ainda conseguiu dar-me uma explicação satisfatória). Assim, no momento só posso dizer “Não faço ideia”.

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