segunda-feira, julho 28, 2008

O elogio do elogio


No que toca a elogios, eu sou a favor. Acho sinceramente que estes pequenos louvores que os outros nos dirigem são essenciais ao nosso bom funcionamento enquanto seres humanos completos e funcionais.

Mas, pelo que me é dado a observar, as atitudes dos indivíduos relativamente a este assunto oscilam entre 2 extremos: os avarentos e os exagerados.
- Os primeiros regem-se pela teoria do “elogiaste, estragaste”: quer se esteja com a aparência da Cindy Crawford num desfile de Versace, quer se tenha acabado de ser nomeada para o Prémio Nobel pela descoberta de qualquer teorema ainda desconhecido, a reacção é sempre a mesma. Perfeita e absoluta calma e apatia. A ideia aqui é a famosa “Tu já sabes que eu te acho linda / inteligente / simpática / inebriante. Porquê que preciso de estar sempre a dizê-lo?”
- Os segundos optam pela abordagem oposta: nem que uma pessoa venha directa de correr a maratona de Lisboa, nem que tenha ficado em último lugar nos testes de QI mundiais, nem que exiba a mais execrável das personalidades, estas pessoas têm sempre qualquer comentário positivo a tecer. E, por norma, são enaltecimentos rasgadíssimos, exagerados e absolutamente enjoativos para quem quer que os ouça.
Nem oito, nem oitenta. As pessoas sensíveis e minimamente inteligentes tendem a ficar magoadas na primeira situação e desconfortáveis e desconfiadas na segunda. O que eu defendo é o meio-termo.

Todos sabemos que é bastante mais fácil acreditar numa crítica que num elogio, e que as primeiras tendem a marcar bem mais que os segundos. É por isso que os elogios verdadeiros são tão preciosos, por isso valem tanto quando oferecidos na altura certa. Porque aquecem o coração e nos tornam um pouco mais fortes, porque ajudam a criar a carapaça que nos protege do dia-a-dia. E se é certo que podem deixar-nos algo “inchados”, também o é que asseguram uma breve felicidade num mundo que peca pela falta dela.

Imagem: retirada do site ficcino.wordpress.com/2007/05/

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segunda-feira, julho 21, 2008

Coração numa mão, carteira na outra


Cada pessoa tem uma forma muito própria de lidar com a tristeza interior que por vezes assola o ser humano. Algumas tentam espantar os sentimentos saindo sempre que possível para evitar ficar a sós com o seu próprio desgosto; no extremo oposto, há as que se fecham em casa com uma manta e meia dúzia de CD’s indutores do suicídio, e passam todos os momentos livres a chorar baba e ranho e a gritar a altos pulmões “Porquê a mim?!”; também há aquelas que encontram alívio na comida, compensando em quilos extra as alegrias que teimam em não aparecer; por fim, há as pessoas que encontram soluções alternativas como, por exemplo, comprar tudo o que lhes passa pela frente.

Eu posso dizer que já experimentei praticamente todas estas reacções, às vezes conjugando duas ou três num verdadeiro acesso de loucura ao bom nível de “Voando sobre um ninho de cucos”. Ultimamente tenho evitado encarnar a personagem que povoou os meus piores pesadelos de infância (“Moby Dick, a baleia branca”), voltando todas as minhas dores e desamores para o consumo desenfreado. Para que se compreenda bem, eu tenho uma faceta de “mão-de-vaca”, de “Tio Patinhas”, que me leva a fugir de grandes despesas como o Diabo da cruz: acho que nunca me viram a dar mais de 100 Euros por umas botas, nem mais de 50 por uns sapatos, e só demorei 3 anos a decidir comprar uma televisão LCD. Mas, como todo o bom forreta, sempre tive uma certa dificuldade em resistir a uma boa pechincha, e, como mulher, continuo a acalentar a ilusão de que preciso mesmo de mais aquele par de sandálias, ou de que aquele casaco vai reestruturar todas as peças da minha vida que teimam em não encaixar.
E pronto, no seguimento de uma fase menos boa, em que a lágrima teimou em aparecer no canto do olho, vi-me, de repente, submersa num mar de tops coloridos, literatura clássica e moderna, camisolas trendy, cremes corporais, CDs revivalistas, shampoos tonificantes, pulseiras da moda e brincos psicadélicos.

Não é que não mereça estes mimos, “Porque eu mereço.” (quem inventou isto é um génio e, se não for mulher, conhece de certeza muitas de nós), mas analisando o referido ataque consumista em retrospectiva, assusta-me um pouco este descontrolo emocional. Racionalmente, sei que nada disto me vai colocar nas mãos o Santo Graal (pelo contrário, uma compra parece sempre dar lugar a outra: ou porque “não tenho nada que combine com o casaco novo”, ou porque “sem o gel contorno de olhos de soja, o creme anti-rugas de caviar não tem o mesmo efeito – não tem nada a ver, mas já repararam que cada vez há mais semelhanças entre a actual indústria da beleza/estética e um restaurante nouvelle cuisine dos anos 80?), mas é de tal modo viciante, e sobretudo alienante, que me começa a parecer verdadeiramente perigoso.

Imagem: retirada do site www.decoradoronline.com.br

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segunda-feira, julho 14, 2008

Não há pessoas (quase) perfeitas

Se para muitas coisas sou uma céptica empedernida, no que toca a analisar as pessoas de quem gosto sou como manteiga ao sol, a proverbial crente. É certo que eu tendo a partir do princípio que toda a gente é má até prova em contrário, mas uma vez que alguém me conquista passa a carregar o epíteto de “PQP” (pessoa quase perfeita) – isto é, sabendo que à partida ninguém é perfeito, eu passo a assumir que, no mínimo, estas pessoas têm uma forte base de características e princípios com os quais poderei sempre contar.

O que eu pareço esquecer-me consecutivamente é de um facto muito simples: podemos sempre contar com as pessoas para nos desiludirem. Nisso, elas nunca falham. Assim, as minhas histórias de “amor” (seja com namorados, seja com amigos) tendem a ficar marcadas por momentos em que dou comigo num estado entre o chocado e o choroso, amaldiçoando a minha sorte por mais uma vez ter caído no engodo da PQP. Ás vezes a coisa é séria, e acaba com a admiração que sentia por esta ou aquela pessoa (o que equivale a dizer que acaba com a amizade/amor), mas a maior parte das vezes trata-se de pequenas desilusões, cortes de papel que não matam mas doem que se fartam (e deixam pequenas marcas indeléveis na pele). É que eu costumo estar preparada para os inimigos e pessoas que evito, mas para os amigos e outras pessoas próximas o peito está sempre aberto quando recebo as balas.

Aos poucos, vou-me convencendo que é destas mágoas que a vida é feita. E que as minhas expectativas não são justas nem para mim, nem para as PQPs. Somos todos meros mortais e, se esperarmos demais seja de quem for, estamos mesmo a pedir a inevitável decepção.

Imagem: retirada do blog pinguimalegre.blogspot.com

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segunda-feira, julho 07, 2008

O Sol, Eu e a Praia


Depois de uma infância de adoração às praias e ao calor, decidi que estava farta dos inúmeros escaldões de fazer inveja a qualquer churrasco, das nortadas de ventos mais cortantes que um bisturi, e das tempestades de areia ao nível das do deserto do Sahara. Assim, na adolescência cortei relações com o sol e, a partir daí, dediquei-me a cultivar uma pele digna da época vitoriana.

Este Verão, depois de anos a ser aliciada pelos amigos, encorajada pelos médicos e ameaçada pela minha mãe, decidi quebrar a minha senda de anos a evitar o sol. É verdade: 2008 marca o meu regresso à convivência com o astro-rei. Tenho feito questão de me expor aos seus raios inclementes, seja em piscinas privadas, seja em esplanadas mais ou menos fashion. E tenho de confessar que não me tem desagradado de todo: além de ficar com uma tonalidade um pouco mais adequada à estação, até a disposição parece ter melhorado ligeiramente. E faz sentido: afinal eu nasci no mês de Agosto: tenho obrigação de gostar do meu astro regente.
O mesmo não posso dizer das praias: continua a irritar-me profundamente suportar a areia, vento e má-criação a que este ambiente nos expõe. E, além disso, nas praias do Norte não se consegue nadar: até se pode tentar, mas corre-se o risco de morrer vítima de hipotermia.

Mas pronto, não se pode pedir tudo de uma só vez. Quem sabe se um dia não venho a render-me novamente às maravilhas de um dia inteirinho estendida numa toalha, por trás do indispensável corta-vento, a levar com a novela “Pais e Filhos” ou “Uma família portuguesa e a sua merenda”, com o creme solar a funcionar como íman para o extenso areal (numa imitação barata de um croquete humano), e com o suor a escorrer por cada poro, gozando a antecipação de enfiar o dedão grande do pé numa água que me fará desejar nunca ter saído da toalha.

Imagem: retirada do blog vida-a-duas.blogspot.com/2008/05/o-sol.html

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