segunda-feira, outubro 27, 2008

…e o samádhi

Continuando na senda do post anterior, proponho-me agora avançar um pouco na escala espiritual e abordar a prática do Yôga.

Yôga
Há mais de 5.000 anos, a Noroeste da Índia (no Vale do Indo), um famoso bailarino improvisou alguns movimentos que, graças ao seu virtuosismo, se revelaram extremamente sofisticados e, por isso mesmo, lindíssimos (tratava-se de uma linguagem corporal inspirada na dança). A arrebatadora beleza da técnica levou as pessoas a pedir ao bailarino que transmitisse os seus ensinamentos. Após a sua morte, os discípulos mais leais preservaram a sua arte intacta e assumiram a missão de retransmiti-la, compreendendo a importância de se tornarem também instrutores e de não modificar nada do ensinamento genial do primeiro Mentor. Essa arte ganhou o nome de integridade, integração, união - em sânscrito, Yôga – e o seu fundador ingressou na mitologia com o nome de Shiva e com o título de Natarája, Rei dos Bailarinos.

Voltando aos nossos dias, e de uma forma resumida, podemos dizer que o Yôga é uma actividade essencialmente prática que visa atingir o samádhi. E o que é o samádhi? Etimologicamente trata-se de uma palavra em sânscrito que significa “êxtase”, fisicamente é o estado em que os yôguis conseguem suspender quase totalmente a respiração e a circulação sanguínea (numa morte aparente), espiritualmente trata-se de alcançar a última etapa do sistema Yôga, uma espécie de hiper-consciência em se atinge a suspensão e a compreensão da existência, resultando na comunhão com a mãe universal.
A vertente do Yôga que eu pratico é o chamado SwáSthya Yôga, que compreende oito tipos de técnicas (mudrá, pújá, mantra, pránáyáma, kriyá, ásana, yôganidrá, samyama – esta é a única fonte de stress do Yôga: decorar a nomenclatura associada…), destinadas a actuar em oito áreas distintas, promovendo um aperfeiçoamento multilateral. Os efeitos sobre o corpo, a sua flexibilidade, fortalecimento muscular, aumento de vitalidade e administração do stress fazem-se sentir rapidamente. Mas para despertar o nosso poder espiritual primordial (kundaliní), desenvolver a nossa vertente paranormal e atingir o samádhi, é necessário um investimento de muitos anos de dedicação intensiva.

É por isso que, de momento, eu me satisfaço com o percurso (os resultados a nível físico e emocional), sem pensar demasiado no objectivo último (a tão ansiada “iluminação espiritual”). E se estou satisfeita. Diria mesmo que estou algo viciada na prática desta actividade, que se tornou para mim uma forma de tonificar o corpo e, simultaneamente, de relaxar o espírito. Claro que a paz e satisfação que sinto no final de cada sessão nem sempre têm efeitos duradouros, mas espero que com o tempo (e suficientes horas de meditação) aprenda a controlar certos ímpetos assassinos e a encarar a estupidez humana com alguma compreensão e benevolência. Até lá, vou-me contentando com o facto de já conseguir fazer uma inversão sobre a cabeça e com o sorriso de serenidade que me acompanha sempre que saio da sala de prática.

Nota: e não é que, à semelhança da dança do ventre, também o Yôga surgiu numa civilização matriarcal (tântrica)?

Imagem: retirada do site intensidade.wordpress.com

Etiquetas:

segunda-feira, outubro 20, 2008

Entre a sedução…

Uma vez inserida no universo oriental do Arabesk, não tenho feito outra coisa senão encher a paciência de toda a gente com narrativas elaboradas sobre posições invertidas de relaxamento e requebros de anca. Para se perceber o fascínio que este assunto tem sobre mim, nada melhor do que uma visita guiada a ambas as actividades que pratico actualmente (feita em 2 fases consecutivas, que tudo o que é bom faz-se esperar).

A dança do Ventre
É uma dança do Período Matriarcal e está relacionada com os cultos primitivos em honra da Deusa-Mãe. Apesar da controvérsia que rodeia o tema, podemos afirmar que as suas manifestações primitivas ocorreram no Antigo Egipto, Babilónia, Mesopotâmia, Índia, Pérsia e Grécia, e visavam a preparação das mulheres para se tornarem mães, através de ritos religiosos (é possível que alguns dos movimentos, como as ondulações abdominais, tivessem por objectivo ensinar como reagir às contracções ocorridas durante o parto). Provavelmente por este motivo, a dança do ventre era considerada um ritual sagrado, sendo os homens excluídos de todo o cerimonial. Com o passar do tempo foi sendo incorporada no folclore árabe e, já na nossa era, acabou por conquistar o Mundo Ocidental.

Ora, apesar das suas origens indiciarem rituais sagrados e movimentos pré-natais, a dança do ventre desperta em mim fantasias de estonteantes odaliscas vestidas de organdi, viris sultões de retorcidos bigodes e haréns plenos de sensualidade e intriga (a culpa é de uma série os anos 80 e do Omar Sharif). Adoro andar de calças saruel e barriga ao léu a tentar contorcer-me ao som de uma batida onomatopaica e hipnotizante, adoro simular fluidez enquanto tento coordenar pernas e braços em movimentos rocambolescos com nomes como “O Círculo da lua” e “Oitos invertidos.”, e adoro que, naquela hora e meia, o corpo se concentre unicamente em utilizar músculos que eu nem sabia existirem.

Depois, há a expectativa que rodeia toda a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos… Imagine-se uma noite pintada em tons de vermelho e açafrão. No ar o aroma da canela e do âmbar, agitados por uma suave brisa que ondula cortinas de organza. O licor espesso e adocicado repousando em cálices berberes. De repente, rompendo a semi-obscuridade de velas estrategicamente colocadas, um corpo feminino desliza ao som de uma melodia sistemática e hipnotizante: “Tam-tam-tam-tam – tum – tam. Tam-tam-tam-tam – tum – tam “. Sob um olhar masculino, movimentos sincopados de anca intensificam intenções, o tilintar das moedas e pulseiras espicaça o desejo, as ondulações dos braços e peito simulam carícias e toques que estão para vir. É um ritual intenso, quente e sensual, que vai enlouquecendo os sentidos e deve ser partilhado a dois.

Assim, e apesar de concordar com o regresso em força do Período Matriarcal (Women unite!), tenho de marcar posição e dizer que nestas coisas a presença de um homem é essencial. Pode dizer-se que, quando o corpo de uma mulher aprende a contorcer-se desta maneira, é bom que outros valores se levantem.

Imagem: retirada do site www.agal-gz.org

Etiquetas:

segunda-feira, outubro 06, 2008

Arabesk

Há cerca de um mês atrás, por obra do destino, fui parar à porta de um estúdio de cultura hindu-arábica, o “Arabesk”. Sabendo que tendo a chamar destino ao meu inexistente sentido de orientação, percebe-se que quando lá cheguei já estava algo esbaforida, desesperada e a tentar perceber porquê que, vivendo em Gaia há 5 anos, andava às voltas pela cidade e arredores à procura do caminho para casa. Ora, nada melhor para acalmar a pevide do que reconhecer o caminho e, em simultâneo, dar de caras com uma sinalética que anuncia aulas de Yôga.

Considerando as recomendações dos meus médicos relativamente à falta de actividade física na minha vida, e tendo presente que os ginásios habituais parecem não se conjugar muito bem com o meu trabalho (depois de levar pancada o dia todo, não me apetece andar saltitar de lycra e rabo de cavalo, atirando pontapés para o ar no meio de um grupo de personagens saídas do Flashdance… no máximo, apetecia-me era encaixar um ou dois bofetões nalgumas personagens que habitam o meu dia-a-dia), decidi então tentar algo novo. Foi assim que entrei no dito estúdio e descobri que, atrás do nome pomposo, se esconde um pequeno espaço de decoração exótica, no qual um casal divide entre si o ensino do Yôga e da Dança oriental. Após duas aulas de teste, e incentivada pelos horários laborais com que tenho sido agraciada, de imediato me rendi à ideia de começar a praticar ambas as modalidades.

E devo dizer que esta foi das melhores decisões que tomei nos últimos tempos: as sessões (sobretudo de Yôga) rapidamente se tornaram numa das poucas coisas pelas quais anseio e pelas quais tenho verdadeiro interesse. Até receio falar muito sobre isto, não vá estragar tudo. É que eu sou de entusiasmos (ballet, piano, aeróbica, musculação, full contact, natação…you name it, I did it), mas estas incursões ao mundo oriental têm-me feito tão bem, a nível físico e emocional, que espero sinceramente manter esta recém-descoberta ligação a actividades um pouco mais espirituais.

Imagem: retirada do site www.arabesk.com.pt

Etiquetas: