sexta-feira, janeiro 09, 2009

A bomba caiu.

O nosso País está em crise. Desde sempre. À excepção da miragem de alguns anos dourados, à sombra do Cavaquismo, não me lembro de ouvir qualquer notícia que desse conta de um Portugal à beira da prosperidade económica. Nem mesmo da banal estabilidade. Sempre estivemos “em recuperação da má gestão dos governos anteriores”, ou “a trabalhar para nos aproximarmos dos nossos parceiros europeus” (na metade inferior da tabela, claro, ao estilo “corredor de fundo”), ou “a apertar o cinto para evitar os tempos difíceis que se aproximam”, etc, etc. Assim, apesar da natural tendência lusa para dramatizar as situações e fazer coro com os arautos da desgraça, a verdade é que nós, mais do que ninguém, estamos habituados a relativizar as “crises” e a fazer inveja a qualquer Michael Phelps quando se trata de nadar pelos mares agitados das finanças nacionais e internacionais. E se, por fora, gritamos e esperneamos “É a crise! Agora é que vai ser! Estamos bem lixados!”, por dentro vamos pensando «Lá está o Pedro outra vez a gritar “Lobo”, quando os leões já comeram o pobre animal há anos...».

Foi a isto que a minha geração se habituou: à política do “umas vezes melhor, outras pior, a gente vai-se safando”. Talvez por isso, quando em meados de 2008 nos vieram falar da crise, a nossa reacção foi de respeitosa distância. Sim, sim, a crise é mundial, temos muita pena dos Estados Unidos e da Islândia, mas nós sempre fomos uma espécie de parente pobre, aquele que é esquecido pelo resto da família (os Descobrimentos já lá vão e os valorosos barões assinalados devem andar às voltas nos túmulos a tentar perceber onde pára o Império Português) ou que faz por isso (II Grande Guerra? Não vai dar...). Acredito que mesmo aqueles que racionalmente sabiam que desta vez ia ser a doer, mantiveram a leve convicção interior de que o milagre do “raspão ao de leve” ou do “susto do caraças” podia voltar a acontecer (vejam-se as declarações do nosso Ministro das Finanças que, uns segundos antes de a crise ser formalmente anunciada, declarava que a mesma tinha acabado...).
Não aconteceu. E de repente é o subprime, são os juros, é a contenção de custos, são as falências, é a recessão, são as vacas magras, é tudo a correr mal e a promessa de que 2009 vai ser ainda pior... E este pior acontece quando a desgraça se abate perto de nós, quando vemos pessoas de comprovados méritos a serem dispensadas por falta de verbas, quando equipas de sonho se vêem amputadas de membros essenciais, quando começamos a temer pelos nossos próprios empregos e posições, a tão duras penas conquistados. Sem nos apercebermos, com pezinhos de lã, a pergunta vai-se impondo no fundo da nossa mente: “E agora?”.

O Zé Povinho foi despojado da ironia e mais parece o João Sempre-em-pé, balouçando perigosamente perto do abismo, onde nem o nome o vai salvar. E sabemos que a coisa está realmente complicada quando damos por nós nostálgicos em relação a tempos não tão distantes, com saudades do ramram das políticas nacionais, da desilusão provocada por dirigentes cada vez mais estrelas e cada vez menos profissionais, de uma economia que avançava aos soluços, dois passos para a frente quatro para trás, das pontuais histórias de sucesso e frequentes casos de acomodação. Em resumo, da vida que ia passando, com poucos sobressaltos e muitas críticas surdas, neste nosso pequeno rectângulo à beira-mar plantado.

Imagem: retirada do site www.teclasap.com.br

Etiquetas: