quarta-feira, fevereiro 25, 2009

O circo das vaidades

Há reuniões que só estando lá é que se acredita. A intenção original é esclarecer, mas no final a única coisa que conseguem é confundir.

Entre os Marretas e os Soldados da Fortuna, é um vê-se-te-avias de comentários tragicómicos e ataques pessoais. As pessoas parecem aqueles bonecos de corda que alguém colocou a andar todos ao mesmo tempo. E lá vão eles, em todos os sentidos, completamente cegos, a bater uns contra os outros. É triste de se ver, mas mais triste ainda de se participar.
Há anos que me vejo envolvida nestes circos armados, em que uns são palhaços e outros trapezistas, mas todos se dão ares de domadores de leões. Chega a tal ponto que uma pessoa não sabe se chora, se ri diante de tais figuretas. Eu já há muito que tento pendurar o meu fato colorido e o nariz vermelho, mas esporadicamente ainda sinto que me estão a tentar pentear a juba e não consigo deixar de sacar o chicote.

A verdade é que já estou demasiado cansada de ver espectáculos para os quais não paguei bilhete. Talvez esteja mais do que na altura de virar para a agricultura.

Imagem: retirada do site quartaparede.wordpress.com

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segunda-feira, fevereiro 16, 2009

As acções ficam com quem as pratica.

A minha mãe é uma daquelas pessoas genuinamente boas. Uma pessoa que quando pergunta “Como estás?” quer mesmo ouvir a resposta. Uma pessoa que faz bolos para levar a uma vizinha que esteja doente ou a quem tenha morrido o gato. Uma pessoa que pensa nas outras sem esperar nada em troca.*

Eu nunca fui assim. Na minha cabeça sempre fez bem mais sentido o cepticismo e a visão negra do mundo apadrinhada pelo meu pai, do que a atitude positiva e bem-intencionada da minha mãe. Isto resultou em que raramente compreendesse as suas acções e em que várias vezes a chateasse com comentários como “Olha que ela não faz isso por ti.” ou “Parece que ainda não aprendeste.” ou o clássico “Lá está a mãe a justificar o injustificável.”. Tantas disse e tanto a julguei que, certa ocasião, teria eu uns 20 e poucos anos, ela lá decidiu responder-me à letra. E, como tantas outras vezes, fê-lo com um ditado certeiro.
Nesse dia, ela lembrou-se de ligar a uma conhecida para saber como é que ela estava de uma doença que nem vale a pena nomear. E eu logo “Olha que ela a ti não te ligou quando tu estiveste doente. Só te liga quando precisa de alguma coisa. Não sei porque é que insistes.”. Já com o auscultador do telefone na mão, ela virou-se para mim, com o olhar magoado, e disse numa voz pausada: “As acções ficam com quem as pratica.”. Comi e calei.

Mais uma lição, mais uma dica para ser uma pessoa melhor: não devemos agir tendo em vista determinado resultado ou em função da reacção das outras pessoas. Isto é, as nossas atitudes devem ser regidas pela nossa consciência, pelo que nos faz sentir bem connosco mesmos. E não interessa o que os outros digam ou façam em resultado da nossa acção, desde que a mesma faça sentido na nossa cabeça e coração.

*Das únicas vezes em que a vi verdadeiramente furiosa foi quando alguém caiu no erro de se meter com qualquer um dos seus filhos. Aí sim, o gato vira leão e é um vê se te avias J.

Imagem: retirada do site www.recantodossonhos.com

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segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Afinal, o quê que nós queremos?

Há alguns dias li uma crónica na “Notícias Magazine” que me deixou a matutar. Não me lembro agora do título, mas era da autoria de João Miguel Tavares e tratava das duas características que as mulheres mais valorizam num homem.

O tema interessou-me de imediato, até porque era daquelas coisas em que eu já tinha pensado – sabem como é, são aquelas perguntas que sabemos que nos vão colocar quando formos famosas (juntamente com “Qual foi o livro que mais a marcou?” ou “Qual a receita de bacalhau que mais estimula as suas papilas gustativas?”), pelo que preparamos as respostas mais inteligentes e politicamente correctas, de forma a impressionar sem ferir sensibilidades. Ora, nas minhas reflexões sobre o assunto, eu tinha chegado à brilhante conclusão de que as qualidades que mais me seduzem num homem são a inteligência e o humor. Precisamente aquelas que João Miguel Tavares satirizava na sua crónica.

Dizia este homem, obviamente inteligente e com um sentido de humor apuradíssimo, que acha imensa graça quando ouve as mulheres enumerarem estas duas características como resposta à dita pergunta. Isto porque tinha confirmado, por experiência própria, que nenhuma das duas lhe serviu de muito nas alturas em que tinha pretendido arranjar uma namorada. Segundo ele, as companheiras de estudo que enchiam a boca para falar de homens com cérebros iluminados e riso fácil, eram as mesmas que passavam por ele, a grande velocidade, em direcção ao atleta giraço e obtuso que não conseguiria soletrar “humor” nem que a sua vida dependesse disso. Agradou-me a lucidez e a ironia deste homem, gostei do que li, ri-me e identifiquei-me.
Mas depois pensei: “Isso queriam eles, que nós fossemos tão fáceis de interpretar”. Decidi que a crónica tinha parado na altura certa para assegurar a piada, que o cronista não tinha ido mais fundo por escolha (note-se que ele falava depois de uma “alma caridosa” que lhe tinha dedicado a atenção desejada…). Decidi ir eu.

As mulheres querem, de facto, um homem inteligente e com humor. E também querem que este homem tenha o aspecto de um Brad Pitt em “Meet Joe Black”. Ou seja, de uma forma estereotipada podemos dizer que, enquanto os homens procuram as qualidades que valorizam em várias mulheres (a “amante” explosiva, a “mulher” companheira, a “amiga” cúmplice, a “mãe” omnipresente / ou / a “ruiva” quente, a “morena” sensata e a “loira” glaciar…), o que as mulheres pretendem são todas as qualidades compactadas num único homem. Só isto. Até aqui é fácil, é a análise superficial. O que se passa depois é que exprime a verdadeira essência das mulheres. É que, independentemente do que idealizaram, as mulheres são capazes de se apaixonar perdida e irremediavelmente por um Al Pacino. Para nós, a inteligência e o humor, bases do carisma, são armas tão poderosas como a beleza para eles. E o que fazemos então com os nossos ideais de perfeição? Passamo-los para nós próprias, tentando fazer malabarismos incríveis para satisfazer as fantasias e necessidades do nosso homem simpático e inteligente. É este o nosso fardo e a nossa maior virtude: a capacidade de começar a amar alguém só porque cita o nosso autor favorito, porque diz a piada certa na altura certa, porque o seu toque arrepia cada célula do nosso ser.

Independentemente da análise, devo dizer que quando for confrontada com a tal pergunta, vou passar a dar a mesma resposta que dei aos 15 ou 16 anos quando, perante a minha recusa a namoricos mais sérios, algumas amigas me perguntaram “Afinal, o quê que tu queres num homem?”. Resposta: Carácter e personalidade (às vezes, para voltar às origens, é preciso um distanciamento que só se atinge com a maturidade).

Imagem: retirada do site popularbiographies.wordpress.com e www.recados.net

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