segunda-feira, abril 27, 2009

Coisas que odeio - VII

Odeio pessoas que não têm o sentido das conveniências. Pessoas que agem de forma imatura e inconsequente e/ou tentam fazer os outros de parvos, sempre com a desculpa de que estes é que estão a “fazer uma tempestade num copo de água”.

Este comportamento irrita-me em todas as suas formas, seja alguém fazer-se convidado para actividades ou conversas das quais estaria excluído à partida (deixando as restantes pessoas sem forma nem coragem de tomar uma atitude), seja essa mesma pessoa fazer um comentário boçal ou de tal modo descortês que coloque as restantes numa situação de total desconforto. Mas o que verdadeiramente me enfurece são os comportamentos que dizem respeito às relações íntimas.
Eu sinceramente não sei o quê que se passa, mas parece que agora é muito normal fazer coisas como oferecer roupa interior aos companheiros das outras ou tomar um copo com a namorada do melhor amigo quando este está fora. Não compreendo, não concordo e não aceito estas modernices. Desculpem lá, mas não é normal que uma pessoa convide o namorado/a de outra para um jantar a dois com o argumento de que não tem mal porque são só amigos; tal como não é normal que se ofereça um par de boxers ou um soutien a parceiros alheios, só porque se achou que a peça de roupa tinha “piada”. Amigos e amigas, se necessitam absolutamente de ter uma conversa a dois com alguém comprometido, a tarde é sempre uma boa alternativa, tal como um café é sempre preferível a um bar ou restaurante; por outro lado, se gostam de dar prendas com piada, o meu conselho é que comprem canecas ou pins (e, de preferência, sem insinuações eróticas ou sexuais). Obviamente, há situações e situações, mas não me parece muito difícil compreender porque que um jantarzinho a dois causa alguma urticária; tal como é absolutamente compreensível que, perante uma lingerie oferecida por terceiros (avós, pais e irmãos não contam), o único instinto que se levante seja o homicida. Em caso de dúvida é muito simples: basta perguntarem-se o que achariam se estivessem do outro lado (sejam sinceros, que é muito fácil tornear a verdade para servir os nossos interesses).

E juro que se mais alguém me diz que estou a fazer uma tempestade num copo de água (habitualmente costumam ser os homens, que usam este argumento em qualquer discussão que tenham com uma mulher, numa tentativa de nos fazerem vacilar perante a ameaça da irracionalidade - mas também existem algumas mulheres, ditas “modernas”, que acham tudo bastante “normal”… até se verem nelas), vai ser bastante difícil controlar os raios e trovões que se vão seguir.

Imagem: retirada do site www.casaconhecimento.com.br

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segunda-feira, abril 20, 2009

Ou cale-se para sempre.

Os homens costumam queixar-se de que as mulheres nunca dizem aquilo que realmente estão a pensar. Existe até a anedota de que um homem deve começar a preocupar-se quando pergunta à sua companheira o que se passa e ela responde “Nada…”, com aquele ar “fodido descontraído” que só as mulheres conseguem fazer. E tem piada, porque todos nos podemos identificar com ela. Mas mulheres, como chapéus, há muitas, e se há coisa que não somos é lineares.

Algumas mulheres fariam Marlene Dietrich corar de inveja: frias e implacáveis, jogam com as mesmas armas dos homens. Quando uma mulher destas responde “nada”, a probabilidade é que realmente não se preocupe mesmo nada com o que eles fizeram ou deixaram de fazer. São as chamadas “femmes fatales”, as que os fazem sofrer e que eles nunca esquecem. Mas estas mulheres são tão raras que, para ser sincera, ainda só vi espécimes destes em filmes.
Depois há as mulheres que tentam ser assim. São exímias a jogar o jogo do “não se passa nada”, levando os companheiros a um de dois pontos: ou enlouquecem a tentar descobrir o que raio fizeram desta vez (o que pode levar a gastos significativos em flores, bombons e perfumes), ou simplesmente suspiram de alívio por não serem confrontados, continuando a fingir que realmente nada se passou (ou seja, a mulher acaba com uma úlcera nervosa de tanto fingir desprendimento à espera de uma reacção).
Existe ainda uma estirpe de mulheres, raríssima, que consegue simplesmente não agir até que confirme a existência de uma razão para o fazer. Ou seja, esta mulher espantosa, consegue controlar o vulcão de emoções que todas temos bem junto ao coração, fingir que nada a preocupa e… esperar. Esperar até que ele se traia sozinho, sem sequer desconfiar que o está a fazer debaixo da mira de um caçador implacável. Eu tenho o privilégio de conhecer pelo menos uma destas mulheres. E o que eu aspiro a um dia vir a ser assim… Classe, amigas, pura classe.
Mas, por enquanto, não sou. Eu incluo-me num quarto grupo de mulheres. E connosco, a coisa funciona de forma um pouco diferente. Imaginemos que a cara-metade faz alguma coisa que dispara o meu sistema nervoso. Eu fico um máximo de 5 minutos a considerar se devo ou não chatear-me, a tentar assumir uma atitude blasé face à situação (é mais ou menos neste ponto que surge a famosa resposta “Nada…” se ele calha de detectar o arrefecimento do ambiente); passado esse tempo de reflexão (que em mim funciona mais como um período de ebulição), salta-me completamente a tampa e passo ao ataque, utilizando todas as armas possíveis e imaginárias, com destaque para uma incontrolável fluência verbal e para uma memória invejável.

E pronto. Neste último grupo não corremos o risco de sofrer uma apoplexia nervosa, nem de nos transformarmos em vinagre devido a amarguras acumuladas. Dizemos tudo o que temos direito e sobra-nos tempo. Mas, junto deles, adianta de alguma coisa? Duvido (pelo menos tendo em conta o número de vezes que a situação se repete). A grande satisfação que eu consigo tirar de ser assim é que, pelo menos, ninguém pode atirar com a famosa frase “Se tu não dizes nada, como é que queres que eu adivinhe?”.

Imagem: retirada do site www.topnews.in

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segunda-feira, abril 13, 2009

“La Maleta roja” ou “Agora quem é que nos pára?”

Há algum tempo atrás vi a minha curiosidade espicaçada por uma reportagem televisiva em que se falava da “La Maleta Roja”. Dizia o jornalista que esta empresa de venda de produtos eróticos para mulheres, nascida em Espanha, se estava a espalhar rapidamente no nosso País, que as portuguesas estavam a aderir em massa a uma ideia que lhes colocava nas mãos as rédeas do prazer, fosse ele a dois ou isoladamente. E o facto é que, pouco tempo depois, começou a referir-se frequentemente a dita maleta, fosse em conversas de amigas ou “cusquices” de escritório. Gostei do que ouvi, procurei saber mais, quis a toda a força participar numa das reuniões. E foi o que fiz.
Preparem a mente e o corpo, coloquem os cintos de segurança e sigam-me numa viagem ao “íntimo feminino”...

A teoria
O inovador conceito da “La Maleta Roja”, criado por mulheres e para mulheres, teve origem numa senhora iluminada, de nome Dina, que resolveu agir com base numa série de premissas das quais todas temos mais que conhecimento:
.As mulheres são seres sexuais, com necessidades tão ou mais intensas que as dos homens.
.As mulheres são cada vez mais exigentes no campo da sexualidade, não abdicando já da sua própria satisfação.
.As mulheres têm um papel essencial na relação a dois, assumindo muitas vezes o papel de potenciador e gestor das necessidades.
.As mulheres já não aceitam que a ausência de um parceiro lhes limite o prazer sexual.
.As mulheres têm cada vez mais poder de compra e são naturalmente curiosas/ interessadas por tudo o que possa influenciar a sua qualidade de vida.
.As mulheres não se sentem particularmente confortáveis em Sex Shops (criadas por homens e para homens).
Vai daí, a Dona Dina, reconhecendo esta apetência do mercado, decide encontrar uma forma de a explorar, de levar as Sex Shops até às mulheres. Começa por fazer uma pesquisa e selecção de produtos especificamente direccionados para o sexo feminino e depois, num lance de mestria, resolve implementar um conceito que subverte as habituais reuniões de Tupperware (em que as nossas mães se ocupavam a escolher saladeiras e pinças para batatas fritas), transformando-as em reuniões de Tuppersex (em que as mulheres se ocupam a escolher artigos bem mais interessantes).
O resultado, em condições normais, é a conjugação de uma tarde muito divertida com uma estratégia de vendas quase infalível: um grupo de amigas/conhecidas excitadas e bem-dispostas (mínimo, oito mulheres), o ambiente acolhedor da sala de uma delas (a anfitriã do encontro), a possibilidade de descobrir e experimentar pessoalmente uma série de novidades sexuais (comentando e comparando experiências) e uma assessora desinibida (para explicar dúvidas e aconselhar as soluções mais adequadas).

A prática
Sábado, 04 de Abril de 2009, chez Bárbara.
Depois de algumas semanas de expectativa (sim, sim, com tudo aos pulos…), eis que finalmente participei da minha primeira reunião de Tuppersex. E adorei: não só correspondeu, como superou as expectativas.
Começámos com uma mostra de cosméticos comestíveis (!), destinados a despertar todos os sentidos e mais algum: do óleo afrodisíaco de morango/champanhe ao creme corporal de framboesa, passando pelos pós de mel e pelo chocolate com pincel, todos os produtos exalam as mais deliciosas fragrâncias, asseguram o mais envolvente dos toques e convidam a experimentar os mais apetitosos sabores nos corpos dos companheiros (digamos que não foi difícil imaginar-me qual Rembrant, de pincel de chocolate em punho, frente a uma tela viva, palpitante, numa cama de cetim… haverá melhor maneira de ingerir uns gramas de chocolate, livres à partida do remorso graças ao inevitável exercício físico que se seguirá?).
A reunião continuou com alguns produtos mais “exóticos”, dos quais posso referir as famosas bolas de Kegel (que juntam o útil ao agradável), algemas de felpa, chicotes com penas, anéis penianos (com e sem “coelhinhos”, “golfinhos” e outros animais mais ou menos “vibratórios”), plugs anais, etc. Mas, nesta categoria, sem dúvida que o destaque terá de ir para um Spray excitante, de apropriado nome “Volaré”. Duas borrifadelas, uma leve massagem e lá vamos nós: cócegas marotas, calores intensos, picos gelados, subir, descer, cruzar e descruzar pernas, arrepios de prazer, rubor nas faces… isto sem falar do que acontece quando acompanhamos o dito produto de um massajador (que os há ergonómicos, de vários formatos e até em esponja, para utilizar no banho – nunca mais vou olhar para um morango da mesma forma…). Aí é mais “Adeus, ó tchau, fui-me embora!”.
Para o fim da festa ficaram guardados os reis do prazer feminino, arqui-inimigos dos homens, os famosos vibradores (não confundir com massajadores, dos quais já falei e que se destinam sobretudo ao exterior, nem com dildos, cuja forma se assemelha, mas aos quais falta a pujança das pilhas). As expectativas eram altas, especialmente depois dos preliminares, mas mais uma vez não houve desilusões. Havia um para cada gosto: os chiques (tamanho standard, textura suave, formato liso – muito clean e asséptico, semelhante a um massajador), os design (tamanho standard, textura macia, formato semi-realista – com o aliciante de vibrarem em vagas de impulsos distintas), os realistas (maiores ou mais pequenos, impressionantes na sua similitude venosa) e, finalmente, o matador, para as verdadeiramente corajosas: o Icebreaker. Este imponente falo mecânico (sim, é grande!), além de vibrar com uma intensidade impressionante, é composto ainda por uma estrutura central, com um sistema de rotação independente, na qual se movem algumas dezenas de pérolas, e por um pequeno golfinho, com um sistema de vibração próprio, destinado unicamente ao clítoris. E pronto: cá está a resposta às preces de muitas mulheres e aos pesadelos de qualquer homem.
A reunião terminou com uma deliciosa tarte de limão e canela e muitas (imensas) encomendas. Um sucesso a todos os níveis. Agora é só esperar que cheguem os produtos para pôr as rodas da sedução em curso. Eles que se preparem.

Em nota de fecho, que este já é o maior post do mundo, resta-me apenas dizer que é compreensível o sucesso da “La Maleta Roja”. Durante muitos anos ficava mal a uma mulher falar sobre este tema tabu, assumir-se como ser sexual, frequentar Sex Shops (a não ser por curiosidade ou para apimentar uma Despedida de Solteira). Ainda hoje, modernas que nós somos, nos espantamos quando esta ou aquela amiga assume ter um vibrador (ou vemos os olhares de “A sério?!” quando somos nós a assumi-lo).
E de repente aparecem estas reuniões. Não é difícil perceber a adesão de grupos perfeitamente heterogéneos de mulheres, o porquê de não existir um target específico, uma faixa etária definida, nem uma classe social prioritária. Ali somos todas só mulheres, com os mesmos problemas, ânsias e necessidades, livres para falar das nossas expectativas e receios, para testarmos este ou aquele produto, para nos rirmos à gargalhada com este ou aquele resultado, para trocarmos opiniões e histórias pessoais.
Eu recomendo.

Imagem: retirada do site http://mywordpress2.wordpress.com

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segunda-feira, abril 06, 2009

Maria chorona

Antigamente contava pelos dedos de uma mão as pessoas que me tinham visto chorar, agora tenho de fazer contas às que ainda não me viram fazê-lo. Não sei bem o que se passou, mas entre a saída da adolescência e a entrada na vida adulta, alguma coisa mudou em mim. Alguma coisa que me parece estar a intensificar-se consideravelmente com a idade.

Há muitos (tantos…) anos atrás, eu fazia gala de nunca chorar à frente de ninguém. A minha ideia era esta: toda a gente quer bater no ceguinho, e se uma pessoa se mostra fragilizada à frente de quem quer que seja, essa pessoa vai, invariavelmente, ver-nos como alguém fraco e tentar trepar. Por isso mesmo, nessa altura só duas ou três pessoas bem próximas (leia-se “mãe” e “irmã”) viram lágrimas nos meus olhos.
Ora, isto funcionou muito bem enquanto os meus únicos problemas se limitavam às ocasionais chatices com amigas, às desilusões amorosas com o garanhão do liceu e aos conflitos que as saídas à noite desencadeavam em casa. A partir do momento em que pude ser considerada oficialmente adulta, a coisa começou a mudar: fosse um stress incontrolável no emprego, algumas situações pessoais angustiantes ou problemas incontornáveis numa relação íntima, o certo é que as lágrimas começaram a aparecer com bastante mais frequência. E de repente eu, que tinha por hábito caracterizar-me como uma pessoa “forte”, vi as minhas defesas caírem pouco a pouco, deixando expostos alguns sentimentos.
De início preocupou-me, achei que estava a ficar fraca, descontrolada, demasiado “gaja”. Irritava-me saber que esta ou aquela pessoa já me tinham visto chorar, que não conseguia corresponder à imagem que eu própria tinha construído para mim. Neste momento, acho que se continuasse e fazer jogos e resistências, mantendo todo o sofrimento fechado dentro de mim, ia acabar com o coração azedo e a alma em fanicos (já assisti a alguns casos pessoalmente). E como não tenho outro remédio senão aceitar que a minha natureza é esta (entre a pedra e a água, entre o calor e o frio, entre o dia e a noite, entre sorrisos e choros), passei a preocupar-me bem menos com o que os outros vão ou não pensar, e a preocupar-me bem mais comigo. Assim, tenho chorado sempre que algo o justifica, sempre que o meu coração sofre por alguma coisa: seja porque a vida afasta alguém importante (nos últimos tempos tem-no feito com considerável regularidade), seja porque num filme morre uma personagem adorável (as últimas lágrimas dedico-as ao “pior cão do mundo”).

E de uma coisa tenho a certeza: não são meia dúzia de lágrimas que mostram a essência de alguém, nem são elas que definem a sua força ou fraqueza. O que importa são as nossas atitudes e a postura que assumimos, o carácter que revelamos nas alturas certas. Com choros ou sem eles, o que não devemos é permitir que abusem ou tripudiem de nós. Afinal, se o camelo não se baixasse não lhe punham a carga em cima (ainda que estivesse a chorar copiosamente…).

Imagem: retirada do site noticiasimpossiveis.wordpress.com

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