segunda-feira, agosto 17, 2009

Convites

Quando se chega a determinado ponto da vida tendemos a acreditar que as premissas que nos definem enquanto pessoas e profissionais são completamente estáveis, acreditamos que estamos seguros e que nada nos pode atingir, que certas coisas são imutáveis e só sofrerão alterações se estas partirem de nós.

Depois algo muda, a sociedade sofre um valente esticão, os castelos de cartas começam a ruir. É aí que a nossa arrogância se começa a encolher atrás do medo, que nos começamos a assustar e a pensar no pior. E se numa fase inicial queremos acreditar que o que está a acontecer a outros, conhecidos e desconhecidos, nunca nos irá acontecer a nós (porque somos diferentes, porque nos esforçámos, porque provámos o que valemos, porque passámos horas e anos sem conta a fazer “um esforço”), num segundo momento começamos a ver que será melhor preparar a nuca para a paulada. Mas a verdade é que nunca se está verdadeiramente preparado para abrir mão de uma história de vida, de todas as comodidades e segurança conseguidas a duras penas, para voltar à luta, de peito aberto às rejeições, para a angústia de fazer face às dificuldades que inevitavelmente se irão acumulando.


O único ânimo poderá advir da capacidade de encarar a mudança como uma oportunidade. Não é fácil, e são raras as pessoas que conseguem dar a volta por cima e ressurgir mais fortes. Quanto a mim, já percebi que falar é fácil quando se está a lidar com situações meramente hipotéticas. Por isso, vou convencer a minha pessoa, que despreza livros de inter ajuda e pensamento positivo, a colocar “Quem mexeu no meu queijo” na mesa-de-cabeceira e a tratar de interiorizar as suas máximas.


Imagem: retirada do site www.bitaytes.com

Etiquetas:

terça-feira, agosto 04, 2009

Vira o disco e toca o mesmo.

Graças à luta incansável de algumas combatentes do sexo feminino, as mulheres conquistaram mais direitos nas últimas décadas do que em toda a história da humanidade (excepção feita a algumas sociedades pré-históricas, com as suas deusas-mãe a sugerir que não fosse o advento da religião e quem mandava éramos mesmo nós … mas isso são outras histórias). Da liberdade sexual ao direito de voto, pouco a pouco, as leis da sociedade têm vindo a ajustar-se de forma a satisfazer mais de metade da população mundial. No entanto, sempre que vou a um jantar de família (daqueles com pais, avós, muitos primos, cães e gatos) fico a perceber porquê que as mulheres continuam a ter tantas dificuldades em ser encaradas como iguais (quer em família, quer no trabalho).

Quem vir um destes acontecimentos de fora pode apreciar o seguinte panorama:

- Antes do jantar: os homens juntam-se na sala, a fumar uns cigarros, a beber uns aperitivos e a conversar sobre política ou sobre os seus empregos e interesses; as mulheres ficam na cozinha a descascar, cortar e preparar a comida, a pôr a mesa e a falar, quase invariavelmente, de receitas ou de crianças.

- Depois do jantar: os homens juntam-se na sala, a fumar uns cigarros, a beber uns digestivos e a conversar sobre política ou sobre os seus empregos e interesses; as mulheres ficam na cozinha a levantar a mesa, a lavar e a secar a loiça e a falar de receitas ou de crianças.


E porquê que isto acontece? Custa-me dizer, mas em grande parte é mesmo por nossa causa. Por exemplo, eu adoro ficar na sala a ouvir e a participar de conversas que tratem temas de interesse nacional ou internacional (não é que não goste de falar de receitas - adoro! -, mas não quando há coisas mais interessantes a serem discutidas na sala ao lado). Agora, se eu for a um destes jantares e decidir ficar na sala, quem acham que me vai criticar?... Certo: vão ser as mulheres. Todas sabemos como é: “Aquela gaja, em vez de vir ajudar, senta-se na sala ao lado do namorado…”. Claro que a boa educação nos diz que temos de ajudar. Mas isso não é válido para todos? Desde quando é que ter uma pila nos isenta da responsabilidade? O certo é que, quando existem grupos de homens e mulheres, eles assumem naturalmente que o trabalho de sapa é nosso. E nós também. De vez em quando, um deles lá condescende em colocar um ou dois pratos na mesa e é um acontecimento: ele fica todo contente consigo mesmo, porque nos “ajudou”. E nós também. Haja paciência, assim não vamos lá.


Mulheres, eu sei que é difícil, mas as coisas só vão mudar quando começarmos a assumir a nossa culpa: das mãezinhas que não souberam/sabem educar os filhotes (ditado relevante: “A mão que embala o berço é a mão que governa o mundo.”), das mulheres que continuam a virar-se uma contra as outras em vez de dirigirem as suas críticas para o alvo certo (enquanto não só aceitarmos, mas defendermos os papéis que nos foram atribuídos à nascença, vai ficar tudo na mesma). Estamos tão centradas em ganhar a guerra que nem nos apercebemos que continuamos a oferecer-lhes de bandeja as pequenas batalhas do dia-a-dia. Depois queixamo-nos.


Imagem: retirada do blog adevidacomedia.wordpress.com

Etiquetas: