segunda-feira, outubro 19, 2009

Inesquecível.

Às vezes temos a sorte de conhecer pessoas que nos tocam. Pessoas que, por terem um percurso de vida excepcional e um carácter fora do comum, se distanciam do comum dos mortais. Pessoas que inevitavelmente deixam a sua marca em todos aqueles que cruzam o seu caminho. Estas pessoas são maiores que a vida e, quando partem, deixam para trás muito mais que uma sensação de perda irreparável e um mar de saudades inconsoláveis.

Eu tive o privilégio de conhecer uma dessas pessoas. Mais do que isso, tive a honra de estar suficientemente próxima para quase me poder considerar da sua família. Estimo cada momento que passei com ele e todos os pedacinhos de sabedoria com que me presenteou. Recordo já com imenso carinho os fragmentos de vida que amavelmente partilhou comigo. Infelizmente, nem aqui é lugar, nem eu me sinto à altura de apresentar uma vida transbordante de feitos grandiosos, caracterizada por uma inestimável riqueza de pormenores, plena de vivências invejáveis, marcada por intensas alegrias e sucessos, ferida por profundas tristezas e desilusões.


Posso apenas tentar revelar um pouco do Homem que conheci. Este Homem, que percorreu mundo, ergueu um império jornalístico e marcou de forma indelével uma época, nunca esqueceu aqueles que dele precisaram. Este Homem, conhecido pela vontade férrea, feitio intransigente e reacções coléricas, não hesitava em louvar abertamente o amor da sua vida, exibindo fotografias e relatando os feitos daquela que escolheu para companheira de vida. Já não se fazem homens assim. O molde partiu-se e os últimos exemplares teimam em cansar-se de um mundo demasiado pequeno e mesquinho para eles.


Nunca vou esquecer a forma carinhosa como me incluiu no seu coração. Retribuo mantendo-o para sempre no meu. Adeus Sr. R.


Imagem: retirada do site comunidadedetete.multiply.com/

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terça-feira, outubro 13, 2009

Poupem-me.

Estou fartinha, fartinha, fartinha. Até às pontinhas dos cabelos.

Estou fartinha de prima donnas. Estou fartinha de profissionais competentíssimos que nunca se enganam. Estou fartinha que se tentem esconder enganos atrás de paternalismos boçais. Estou fartinha de trabalhos feitos com desleixe (1º regra que aprendi na vida profissional: demora tanto tempo a fazer bem como a fazer mal). Estou fartinha de pessoas dissimuladas. Estou fartinha de ataquitos de histeria. Estou fartinha de que se justifique a má-criação com excesso de trabalho. Estou fartinha de desresponsabilizações. Estou fartinha de burrice mascarada de indignação. Estou fartinha de egos que não correspondem ao talento. Estou fartinha do elogio do “eu”. Estou fartinha de que as pessoas esperem palmadinhas nas costas por fazerem o seu trabalho. Estou fartinha de cochichos e insinuações maldosas. Estou fartinha de cobardias e pessoas com 2 caras. Estou fartinha de espectáculos deprimentes. Estou fartinha de jibóias, cobras e minhocas com pretensões a víbora.


Também estou cansada. Física e psicologicamente esgotada.

Estou cansada de ver pessoas dignas serem postas em causa. Cansada de não ver o mérito atribuído a quem de direito. Cansada de ver alguns enteados a tentar sobreviver num terreno fértil em filhos. Cansada de sentir mais desprezo que admiração. Cansada de ver joguinhos de poder e associações tenebrosas. Cansada de tentar ter esperança. Cansada de nada mudar. Cansada de estar cansada.

Imagem: http://palavrasescondidas-maria.blogspot.com/2009_05_01_archive.html

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terça-feira, outubro 06, 2009

Don’t you feel like crying?

Em 1987, um pequenino filme destinado ao fracasso (do argumento - colocado em hold por vários estúdios - à reacção de produtores e patrocinadores perante o produto final - “Queimem as bobines e recolham o dinheiro do seguro.”) abanou o ano cinematográfico e tornou-se um dos mais vistos e rentáveis de sempre. Quanto a mim, se houve filme que marcou a minha adolescência foi “Dirty Dancing”.

Fui vê-lo com uma das minhas melhores amigas e, a partir do momento em que saímos do cinema, ficámos mais ou menos 6 meses numa alternância entre suspiros e passos de dança. Foi muito fácil identificarmo-nos com aquela menina ingénua e virginal, com fortes ligações afectivas ao pai, que descobre numas férias o poder da atracção, a força do amor, a magia da dança. O que nós queríamos ser a Baby, o que nós queríamos um Patrick Swayze só para nós, o que nós queríamos uma cave escura e fumarenta onde pudéssemos ensaiar uns passos de dança super sensuais. A cena em que o casal passa a primeira noite juntos entrou directamente para o meu coração e estabeleceu um standard difícil de equiparar: haverá algo mais erótico do que aquela dança de corpos colados, que se desnudam e descobrem ao som de um tema de intensidade perturbadora? Inesquecível.


Há duas semanas atrás, revi o filme e voltei a apaixonar-me. Mas agora com uma paixão mais pungente, mais dolorida, menos inocente: o bad boy sensível, o bailarino incontornável, uma das referências da minha juventude desapareceu para sempre. Patrick Swayze partiu, vítima da mais cruel das doenças, uma sombra da personagem que encarnou. Ainda que não sirva de consolo, fica a certeza de ter tocado inúmeras vidas, de ter lugar permanente no imaginário de milhões de pessoas.


PS - Um ou dois anos mais tarde fui ver o “Pretty Woman”, com a mesma amiga. Apesar de ter sido outra experiência cinematográfica bastante marcante, não obteve o mesmo efeito: era mais difícil identificarmo-nos com uma prostituta de esquina de L.A. …


Imagem: retirada do site www.vol1brooklyn.com

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