quarta-feira, janeiro 25, 2006

A era das relações descartáveis

Há tempos tive um desgosto amoroso. Uma daquelas paixões que não era para ser, acabou por acontecer e morreu com a mesma brusquidão e rapidez com que começara.
Comentário da minha mãe: "Já não se fazem homens como antigamente." (leia-se: "A culpa só pode ser do perfeito idiota que se recusa a ver na minha filha a mulher mais perfeita que Deus colocou no mundo. Ex-aqueo com a irmã.").
Comentário da mãe de uma amiga: "As mulheres agora são mais exigentes."
Se o primeiro comentário me fez abanar fortemente a cabeça para cima e para baixo, concordando de forma veemente que a culpa é "deles", que "eles" não sabem o que querem, que antigamente "eles" eram muito mais fortes e decididos, e que "rais' partam os homens, vou-me tornar lésbica", já o segundo fez-me erguer a sobrancelha com um "hum..." e pensar a sério no assunto.
De facto, o sucesso ou insucesso de uma relação não parte só de um dos elementos. E não foram só os homens que mudaram. As mulheres também. E muito mais.
Vou mais longe: foi a mudança na vida das mulheres que impulsionou a mudança na dos homens. Quem mudou as regras do jogo fomos nós - eles foram obrigados a ajustar-se a mulheres que não dependem de ninguém, que emitem (e impõem) opiniões próprias, que tomam a iniciativa (nos mais variados campos, incluindo os tradicionalmente considerados masculinos), que vivem a sua própria vida sem pedir licença nem permissão a ninguém. Se os 2 sexos são iguais, neste momento o feminino é mais igual que o masculino.
Antigamente a mulher era a guardiã da família, da relação: era-lhe socialmente exigido que casasse (cedo!), tivesse filhos e se mantivesse casada. Neste momento, e por muito que ainda exista uma pressão semi-velada da sociedade, a escolha é dela. E esta possibilidade de escolher tornou-a exigente.

De que modo isto influenciou as relações entre os sexos? Muito.
Estamos numa era de relações descartáveis. E apesar de, face a uma separação, ambas as partes tenderem a culpar a outra e a generalizar a culpa para o sexo oposto, o certo é que a "culpa" é de ambos.
A maioria das pessoas que conheço (de ambos os sexos) parte para uma relação com o pressuposto "se não correr bem, acaba-se e parte-se para outra.". Seja um mero flirt/namoro, seja um casamento. Eu, pessoalmente, tenho pena e considero dramático que se tenha substituído o "vale a pena tentar" pelo "não vale a pena perder tempo". Quero acreditar que é possível conciliar a liberdade e independência dos sexos com a estabilidade e cumplicidade necessárias a uma relação. Agora é preciso é que ambos estejam preparados para lutar juntos e não um contra o outro. E, sobretudo, é preciso não atirar culpas...
Tudo bem que a maioria dos príncipes se transforma em sapos quando beijados, mas as princesas também já não se contentam com qualquer beijo:)

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