segunda-feira, setembro 21, 2009

My favourite serial killer

Eu sempre tive um fascínio inexplicável por serial killers. Na mesma altura em que ainda trocava cromos dos Modern Talking com as amigas, já andava pelas bibliotecas (sim, que no meu tempo não havia Net para toda a gente…) a tentar saber mais sobre o sedutor Ted Bundy e o infame David (Sun of Sam) Berkowitz.

Desconfio que as razões se prendem com a necessidade de compreender o que me rodeia e, sobretudo, as acções dos seres humanos (o que gostava de tirar um curso de psicologia!). Sempre quis perceber como é que pessoas com uma inteligência acima da média e donas de um charme irresistível, podem simultaneamente arquitectar e levar a cabo a morte (na maior parte das vezes macabra) de outros seres humanos. Também não entendo como é que um indivíduo capaz de albergar tamanho mal dentro de si se consegue fundir na sociedade durante um período de tempo obrigatoriamente longo (caso contrário seria um “single killer”…). Assim, mais do que qualquer outro tipo de assassinos e homicidas, estes sociopatas assustam-me pelo requinte da sua malvadez e levam-me a questionar a verdadeira capacidade de análise dos seres humanos (sempre que um é capturado aparecem logo todos os amigos e conhecidos a justificar a sua cegueira: “Era uma excelente pessoa…ninguém podia suspeitar de uma coisa destas…”).


Bem, mas esta conversa toda para quê? Porque, num acesso de brilhantismo norte-americano, surge uma série que joga com todos os receios e ansiedade relativos a esta questão: “Dexter”, um serial killer de serial killers. Haverá conceito mais bem conseguido que este? Sem conseguirmos culpabilizar a personagem principal, e incapazes de não simpatizar e torcer por ele, assistimos dia após dia ao ritual segundo o qual Dexter captura, assassina e se desfaz dos corpos da sua vítimas. Com a desculpa de um passado traumatizante e regido por um código de valores desenvolvido especificamente para nos amaciar a consciência, este serial killer mais não faz do que aquilo que todos gostaríamos de poder fazer: eliminar a escória da sociedade, criminosos da pior espécie, violadores, sádicos, pedófilos, todos com o carimbo inquestionável de assassinos. No meio de tudo isto, assistimos às suas reflexões absolutamente amorais sobre a sociedade, as relações, a família e o trabalho. É que Dexter não julga nem sente como os restantes mortais. Mesmo com a evolução da personagem (que entretanto ganhou uma mulher e um filho), continua a analisar tudo friamente e sem qualquer ligação emocional, mantendo intacta a sua regra de ouro: não ser apanhado. É impossível ver a série sem ficarmos absolutamente rendidos ao seu raciocínio brilhante e humor cínico.


É raro uma série ou filme conseguirem manter o nível do livro que lhes deu origem. Neste caso, o livro de Jeff Lindsay é mais negro, apresentando um Dexter bastante mais desligado daqueles que lhe deveriam ser próximos, mas a série consegue estabelecer uma ligação indelével com os seus espectadores. Sem dúvida que a riqueza e envolvência dos sucessivos argumentos, um elenco excepcional e as estrelas convidadas das várias temporadas em muito contribuíram para o sucesso, mas a responsabilidade por transformar “Dexter” numa série de culto vai inteirinha para Michael C. Hall. A antiga estrela de “Six feet under” consegue que o seu assassino frio e distante, uma das mais complexas personagens da televisão actual, conquiste o público, transformando a sua interpretação num case study sobre como dar vida a um homem complicado e permanentemente assombrado por demónios interiores. Devia haver Oscars para TV, porque um Emmy vai sempre saber a pouco.


Venha rápido a Temporada IV, que eu já estou a sentir os efeitos da ressaca.


Imagem: retirada do site http://www.buddytv.com/articles/dexter/dexter-season-4-speculations-25368.aspx

Etiquetas:

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial