terça-feira, dezembro 11, 2007

O Clube da Pila

Eu já sabia que o Clube dos (verdadeiros) cavalheiros há muito tinha os dias contados. O que não sabia é que estava a ser substituído pelo Clube da Pila. A desconfiança era forte, mas custava-me a acreditar que o cérebro fosse preterido em favor de um qualquer apêndice mais ou menos imponente (diga-se que os membros deste clube, ainda que possam ser bem dotados do mesmo, parecem revelar uma notória diminuição do par que participa mas não entra).
Mas é verdade. E, no que me diz respeito, inquestionável. Existe um clube, reservado a membros do sexo masculino, que está a proliferar nas empresas e, apesar de mais notório e detectável no Norte do País, duvido que não se tenha infiltrado também no Centro e Sul. Este clube consiste basicamente em filtrar os colaboradores, não pela sua inteligência, competência, disponibilidade ou resultados que aportam à empresa, mas por aquilo que lhes foi atribuído pela lotaria genética, quando, ainda girinos, nadavam no ventre da mãe. Sim, sim, pelo facto de terem ou não um “pilau e um par de tintins” (gosto sempre de apresentar as novas abordagens de nome para as nossas partes pudibundas).

A mim, que nunca invejei o sexo oposto (contrariamente ao que afirmou Freud, nunca recolhi qualquer prova de que as mulheres invejam os pénis – quanto mais não seja, desejam-nos, mas quando se fala em trocas… não, obrigada), isto desperta 2 sentimentos muito fortes e contraditórios:
- Raiva – por continuar a existir um grupo fechado e retrógrado de homens que se recusam a ver as mulheres como iguais. Mais, que quando confrontados com mulheres profissionalmente superiores, têm verdadeiros ataques de cegueira histérica, preterindo-as em favor de indivíduos cuja principal característica é serem lambe-botas profissionais (e pode substituir-se “botas” por qualquer outro substantivo que venha à cabeça quando se pensa neste tipo de pessoas). Escusado será dizer que estes indivíduos passam a ser membros efectivos do clube que dá nome a este post, com todas as regalias que lhe estão inerentes. E assim se prolonga o ciclo.
- Admiração – por todas as mulheres que conseguem quebrar esta tradição, trabalhando mais e melhor que os seus “colegas”, demolindo os entraves com sucessos inegáveis, e demonstrando uma força de vontade inquebrável perante todos os “pilas” que se lhes atravessam ao caminho. Parabéns.

Mas que não haja enganos: sei que há homens extremamente competentes, que merecem tudo aquilo que a vida lhes dá (tive o prazer e a honra de trabalhar com pelo menos um – ainda hoje estou para encontrar pessoa mais competente na área em que me movo). O que me tira do sério são aqueles que sobem sem grande esforço, simulando de forma por vezes verdadeiramente patética o volume e qualidade do trabalho que fazem, e deixando para trás profissionais excepcionais que pagam o preço de serem mulheres. Mulheres dirigidas por indivíduos que ainda pensam que o seu lugar seria numa cozinha ou num berçário, nunca numa mesa de Administração.

Dá vontade de criar um Clube da Vagina (eu sei que existem designações bem mais pitorescas e bem mais em linha com o nome do clube rival, mas esta serve o propósito), actuando como lobbie junto de todas as empresas dirigidas por mulheres (são cada vez mais – daí o medo furioso que ataca os homens nas mesmas condições), e assegurando que a cada novo colaborador admitido se desse à partida 2 hipóteses:
- assumir-se como escravo, trabalhando quatro vezes mais que as suas colegas, na vã esperança de ser reconhecido apenas pelo seu trabalho;
- comprar um tesoura e, mediante uma pequena intervenção caseira, ver-se livre do “peso morto” que o impede de subir na empresa.
Não é justo, pois não? Não. Mas daria um certo gostinho de vingança a muitas de nós ver os papéis invertidos.

(foi um desabafoJ)

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