segunda-feira, janeiro 28, 2008

A La Redoute e o vibrador i-Pod

Contrariamente às outras mulheres que conheço, eu odeio comprar roupa. Vou reformular: eu odeio comprar roupa em lojas. Detesto o ritual que parece ter sido estabelecido desde tempos imemoriais pela raça feminina, e que envolve fases bastante definidas e predeterminadas:
.Andar às voltas durante horas, entrando em todas as lojas que possam ou não reflectir minimamente o nosso estilo;
.Percorrer minuciosamente todos os cabides e prateleiras, espreitando bem por trás de cada armário e floreira para evitar que nos escape uma meia que seja;
.Seleccionar toda e qualquer peça que possa eventualmente assentar bem (e mais meia dúzia que obviamente não têm nada a ver connosco, mas que nos sentimos na obrigação de experimentar porque estão na moda);
.Entrar para o provador equilibrando uma montanha de roupa e ainda o talão com o número de peças que escolhemos (que acaba inevitavelmente por desaparecer quando, mais do que furtar, nos queremos ver livres de tudo aquilo que tão criteriosamente seleccionámos);
.Pendurar num gancho com ½ cm as 4 camisolas, 3 saias e 2 pares de calças que pretendemos experimentar, enquanto tentamos despir os corsários sem tirar as botas altas de atacadores, tudo num espaço com 1m2;
.Sair dos provadores a cada peça que se experimenta, com a barriga encolhida e o peito esticado, para perguntar às 2 ou 3 amigas que nos acompanham se “Fica bem?” (ao mesmo tempo que respondemos exactamente à mesma pergunta, vinda exactamente dessas mesmas 2 ou 3 amigas que saem dos provadores contíguos);
.Abandonar a loja, suadas, despenteadas e frustradas, no máximo com 1 cachecol que retirámos do expositor para não passar a vergonha de chegar a casa sem um único souvenir da dramática empreitada…
Digo-vos: pior, só mesmo se vivesse no tempo das cavernas e tivesse de perseguir, abater e esfolar cada animal cuja pelagem estivesse “in”, para ver qual a que me ficava melhor.

Imagine-se o meu alívio quando, há cerca de 14 anos, descobri as compras por catálogo. Podia seleccionar calmamente, em casa, as peças de roupa que de facto precisava; podia experimentá-las, em casa, com todo o conforto e privacidade; podia, sendo caso disso, devolvê-las e receber de volta o valor pago, sem grande demora e nenhuma complicação. Assim, não sendo uma veneradora obcecada de marcas (o facto de trabalhar em publicidade ajuda a colocar as coisas em perspectiva), e tendo sempre escolhido mais pela qualidade e corte das peças, rapidamente me rendi à La Redoute. A variedade, actualidade e características dos seus produtos, aliadas ao facto de os seus saldos começarem cerca de 2 meses mais cedo, conquistaram-me. Neste momento sou uma verdadeira perita em compras à distância, ansiando pela chegada dos novos catálogos e raramente me enganando relativamente às peças que selecciono para mim e para os que me são mais chegados.

Mas o verdadeiro coup de grâce chegou com o último catálogo. Imagine-se que, folheando as suas páginas em busca das tendências da próxima estação, encontrei nada mais, nada menos que um vibrador i-Pod. Eu já conhecia o produto, fruto de algumas conversas animadas sobre o assunto aquando do seu lançamento, mas sempre me pareceu algo distante da minha realidade imediata. E eis que, de repente, aquele aparelho que me fez pensar em desenterrar a paixão adolescente pelo heavy metal, aparece no meu catálogo favorito, totalmente acessível e à distância de um telefonema.

Há que admirar a capacidade de se manterem em linha com este fantástico mundo novo e, sobretudo, há que agradecer pelas reacções que estas novidades provocam (se eles já temem os vibradores normais, imagine-se um que nos dá música, mas só a que queremos…). Parabéns La Redoute.

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segunda-feira, janeiro 21, 2008

A minha viagem ao Vale das Bonecas

Até aos 28 anos, nunca fui pessoa de precisar de medicamentos, suplementos, unguentos ou quaisquer outros “entos” para aguentar a vida. Via amigas a recorrerem a ampolas e mezinhas para aguentarem intensos períodos de estudo e épocas de exames, ou para sobreviverem a paixões que não se concretizaram e amores que terminaram sem piedade. Por mim, tudo sempre passou como uma brisa: ria quando tinha de rir, chorava quando tinha de chorar e stressava bastante pelo meio, mas nada de recorrer a ajudas externas. Sempre me considerei mais forte e, porque não dizê-lo, melhor do que isso.

Há cerca de 6 anos, tudo mudou. A combinação entre um período de intensa actividade profissional e um drama familiar com traços de novela mexicana atirou-me numa espiral de desespero, que culminou numa baixa de 2 semanas e num tratamento diário à base de anti depressivos, calmantes e ansiolíticos. Assim, de repente, eu também era humana, e tão fraca como os outros. Custou-me muito aceitar a situação, mas a verdade é que o cocktail de químicos que me corria nas veias ajudou bastante: a sensação é de que nada que possa acontecer importa. Deixamos de nos preocupar, de pensar demasiado nas coisas, de tentar fazer tudo de forma perfeita. Deixamos de nos importar. As situações, as pessoas, os sentimentos, tudo fica um pouco entorpecido. É como se estivéssemos por baixo de água e a vida estivesse a desenrolar-se uns bons palmos acima da nossa cabeça, reflectida num qualquer ecrã de cinema (o que, para mim, nem era demasiado mau, uma vez que adoro cinema - o argumento é que podia ter um pouco mais de qualidade, mas não se pode pedir tudo). Esta minha ausência forçada, as minhas férias do mundo real, duraram exactamente um mês, que foi o tempo de a receita original se esgotar. Depois disso não houve desmame progressivo, não houve nada: estava farta de não ser eu e resolvi apostar num “cold turkey”. Resultou. Sem dramas, deixei para trás as minhas aventuras no maravilhoso mundo dos fármacos.

Ou pelo menos era o que eu pensava. Até ao ano passado. Uma tragédia, a maior de todas, atirou-me de novo para uma calma quimicamente imposta, para uma serenidade e um torpor que não fazem parte da minha personalidade. De início fez-me bem deixar tudo para trás, sentir menos, afogar a dor, esquecer. Mas agora é demasiado complicado voltar a ser eu, deixar de depender de máscaras, abandonar as “bonecas”. E, na tentativa, a cada 10 minutos sou capaz de oscilar entre momentos da mais pura euforia e instantes da mais profunda depressão. Todos perfeitamente justificáveis, dependendo de quem está a ganhar a batalha dentro da minha mente.

Por enquanto, aos poucos, vou lutando pela minha normalidade. Não é fácil, sobretudo quando se sente o medo das pessoas que nos acompanham, o receio estampado nos olhos quando percebem que o desespero pode regressar de repente, que a qualquer momento podemos precisar de outro tipo de apoio, que já não sabem como nos ajudar. Eu também sei que agora as coisas não vão ser tão fáceis, que posso perder e ficar presa no “Vale das Bonecas”.
Mas não me rendo assim. A luta continua.

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segunda-feira, janeiro 14, 2008

Coisas que odeio - III

ODEIO pessoas burras. Elas têm de existir, eu sei, mas ser obrigada a trabalhar com elas… por favor.

Toda a gente sabe de que tipo de pessoas estou a falar. São aquelas a quem nós explicámos 132 vezes, oralmente e por escrito, como é que determinado trabalho se desenrola e, de cada vez que o mesmo vem à baila, nos mandam mails que têm todas as indicações e elementos menos os necessários. São aquelas que, depois das 132 explicações, ainda não perceberam exactamente porquê que insistimos em pedir-lhes tais informações. São ainda aquelas que, quando acedemos a telefonar para lhes dizer mais uma vez como deveriam ter feito o seu trabalho, nos tratam com um certo desprezo e uma arrogância que roça a má educação.
No entanto, fique registado que também há pessoas que são simplesmente burras, sem a fraca atitude. O problema é que essas tendem a ser servis, o que ainda me enerva mais. São as “coitadinhas”, de quem chegamos a ter pena, tão patéticas que são. A culpa de não entenderem rigorosamente nada daquilo que já lhes explicamos as tais 132 vezes nunca é delas: é sempre do trabalho (que têm invariavelmente em excesso), do chefe (que nunca tem disponibilidade – disposição? - para as ouvir), dos timings (é tudo pedido em cima da hora e não há tempo para pensarem no assunto – este optimismo é enternecedor), de Deus (que parece determinado em complicar-lhes a vida, só para que não cheguem a casa a tempo de ver a novela/futebol das seis).

Mas há mais. Além de termos de aturar palermas que foram obviamente contratados por um energúmeno isento de qualquer capacidade de análise inter-pessoal, especificamente para arruinar os nossos dias e esmagar toda a réstia de bom humor, ainda temos de proceder com todo o cuidado para não ferir susceptibilidades. Sim, porque estas pessoas (as burras) têm uma sensibilidade extremamente delicada, suspeito que por desconfiarem que não foram premiadas com grande capacidade intelectual e terem receio que as outras pessoas detectem esse facto caso se comportem normalmente.

Haja paciência, que a minha há muito se esgotou. Já não posso aturar mais estas incursões que sou obrigada a fazer regularmente ao Planeta dos Idiotas. Chega. Que me saia rápido o Euro Milhões, antes que eu parta para a ignorância e acabe sem emprego por ter dito a uma dessas pessoas exactamente o que pode fazer com o seu cérebro diminuto e com o seu nariz empinado/espinha vergada.

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segunda-feira, janeiro 07, 2008

Eu, ciumenta.

Actualmente parece ser politicamente correcto dizer que quando se ama verdadeiramente se confia, e que uma relação para funcionar tem de ser isenta de ciúmes. Numa só palavra: “Bullshit.” (pela carga que transmite, prefiro a palavra inglesa, mas pode sempre traduzir-se para bom português: “Tretas”).
Todas as evidências me dizem que essa teoria funciona muita bem na… teoria. Porque, na prática, não há quem não sinta ciúmes daquilo que verdadeiramente ama; e se realmente não sente, não ama tanto assim. Está na natureza do ser humano. É simples e é um facto.

O que acontece agora é que as pessoas, para se protegerem, aprenderam a fingir muito bem, a dizer “A sério, ontem encontraste a Cristina Coelho e foram tomar um café à Baixa?” com um sorriso estampado na boca, quando o que apetece fazer é pegar numa tesoura e num ferro em brasa aquecido para transformar a dito Coelho numa bela estola. Mais, conseguem acrescentar com um ar de superioridade: “Não, claro não me importo. Julgas que sou a (acrescentar nome de uma ex-namorada)?”. Isto enquanto uma porção de bílis esverdeada sobe do estômago às papilas gustativas, e o coração se encolhe até ao tamanho de uma ervilha, dando lugar a uma fogueira que ameaça pegar fogo a toda a cidade mas se limita a embaciar os olhos, que passam a ver tudo em tons avermelhados. É arrepiante observar estes novos actores da era moderna a interpretar tal papel. E o pior é que, apesar de praticamente todos os espectadores dizerem que sim, que concordam, ninguém acredita numa só palavra.

Eu confesso que também já defendi esta ideia iluminada. Da minha boca já saíram as palavras “Não é que eu sinta ciúmes, não gosto é que me façam de parva. Não sou ciumenta, sou é orgulhosa.”. Está bem, está. Claro que o orgulho é muito importante (pelo menos para mim, que o reconheço como um dos meus piores defeitos). Socialmente, não há nada pior que ser enganado e ter consciência que vamos ter de enfrentar todas as pessoas a quem dizíamos, com cara de parvos, “Nunca estive tão feliz.”. Mas, muito mais dolorosa é a luta que travamos interiormente quando suspeitamos que a pessoa amada pode estar com outro alguém. A ouvir música, a ver filmes, a divertir-se, a conversar, a partilhar confidências, a tocar, a beijar… sons que só deviam ser ouvidos connosco, imagens que devíamos ter visto juntos, palavras que nos pertenciam, lábios que deviam moldar-se apenas aos nossos… Aqui é que a dor aperta e a raiva acorda. Precisamente quando pensamos que podemos perder – pior, que nos estão a tentar roubar – aquela pessoa. Não me venham dizer que estas ideias nem vos passam pela cabeça quando “the chosen one” vos diz que esteve com uma qualquer sirigaita (da mulher da limpeza à avó do amigo mais chegado – e nem vou falar na ex-namorada, que merece um post só para si!) a comer uma bola de Berlim no Jardim Botânico de rai’s parta que cidade.

Eu já mandei o civismo às urtigas e assumi o leão que há em mim. Sou ciumenta. Odeio que venham cheirar demasiado perto o que é meu (sim, MEU!), e gosto muito pouco de saídas, encontros e qualquer outro tipo de contacto mais próximo com membros do sexo feminino que não seja eu ou um qualquer familiar directo. Não é que faça grandes cenas melodramáticas ou que impeça quem quer que seja de fazer seja o que for. Mas recuso-me a mentir, quer a mim, quer aos outros: não gosto. E qualquer atitude tomada por quem faça parte da minha vida, deve sê-lo tendo presente este facto. Por uma questão de respeito e para depois não haver a famosa conversa “Pensei que não te importavas”, ou pior, “Tu disseste que não te importavas.”.

Para terminar, e para não chocar mentes demasiado modernas, fiquem apenas bem claros 2 factos:
- Eu não exijo dos outros mais do que exijo de mim (não sou do tipo “Eu faço o que bem quero, mas contigo a conversa é outra.”);
- Eu confio nas pessoas com quem estou. Só que o faço de forma saudável, desconfiando.
Somos seres humanos, só isso, e ninguém é perfeito – se nós somos absolutamente capazes de trair, porquê que eles não hão-de ser?

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quarta-feira, janeiro 02, 2008

Deita fora

Eu sou uma grande fã de todos os métodos que envolvam limpar os excessos que se acumulam em todas as áreas da nossa vida.
.Roupa que não usamos há mais de 1 ano? Deita fora.
.Produtos de maquilhagem e perfumes que já perderam cor e aroma? Deita fora.
.Velas, jarras e panelas arrumados no fundo de um armário há décadas? Deita fora.
.Empregos que nos constringem e reduzem enquanto pessoas? Deita fora.
.Relações que se recusam a evoluir e nos provocam melancolia? Deita fora.

É, sou mesmo uma grande fã. Concordo plenamente que há coisas que não interessam nem ao Menino Jesus e que só servem para nos prender ao passado, que há pessoas e situações que são verdadeiras âncoras no que respeita à nossa evolução profissional e pessoal. Só é pena não conseguir agir em função deste conhecimento e aplicar o dito método à minha própria vida.
Confesso que, no que diz respeito a coisas materiais, já estou bastante melhor. Quando me conheci, guardava até a chiclete mastigada por aquele alguém que calhou de me dar o meu primeiro beijo (ou fui eu que lho dei a ele? Afinal, o primeiro beijo era meu para dar…); agora já só tenho em meu poder as 332 cartas e bilhetinhos que resultaram desse momento, tudo muito arrumadinho numa caixinha do Ikea. Mas pronto, estou no bom caminho: faço uma arrumação periódica dos meus armários, selecciono o que me parece dispensável e divido tudo em 2 sacos; um deles está destinado ao lixo, outro a instituições que se encarregarão de fazer a distribuição por quem mais precisa. E pronto, lá vão partes da minha vida que sei nunca mais voltar a ver (confesso que, enquanto estaciono o carro numa qualquer ruela, estou sempre à espera que ver um antigo cachecol ou par de luvas em alguém que me grita simpaticamente “Destrosse, destrosse…Isso mesmo!”). Custa, mas não é o verdadeiro problema.

Onde o esquema parece falhar redundantemente é no que mais interessa. Aquilo que parece ser mais complicado de fazer é algo que eu, há um bom par de anos atrás, conseguia levar a cabo com alguma facilidade. Deixar para trás as situações e as pessoas que estão a sufocar a minha vida, isso é que está a ser difícil. Para ser realista, devo dizer que já ando a tentar fazê-lo há anos e… não consigo. Por uma ou outra razão, acabo sempre no mesmo sítio, a fazer a mesma coisa, a sair com as mesmas pessoas e a conviver em locais que não me interessam.

Dá para ser mais deprimente? Dá para reagir de uma vez e acabar com as queixas? Dá para pôr em prática os conselhos que se dão aos outros? Dá para deitar fora?!

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