segunda-feira, janeiro 21, 2008

A minha viagem ao Vale das Bonecas

Até aos 28 anos, nunca fui pessoa de precisar de medicamentos, suplementos, unguentos ou quaisquer outros “entos” para aguentar a vida. Via amigas a recorrerem a ampolas e mezinhas para aguentarem intensos períodos de estudo e épocas de exames, ou para sobreviverem a paixões que não se concretizaram e amores que terminaram sem piedade. Por mim, tudo sempre passou como uma brisa: ria quando tinha de rir, chorava quando tinha de chorar e stressava bastante pelo meio, mas nada de recorrer a ajudas externas. Sempre me considerei mais forte e, porque não dizê-lo, melhor do que isso.

Há cerca de 6 anos, tudo mudou. A combinação entre um período de intensa actividade profissional e um drama familiar com traços de novela mexicana atirou-me numa espiral de desespero, que culminou numa baixa de 2 semanas e num tratamento diário à base de anti depressivos, calmantes e ansiolíticos. Assim, de repente, eu também era humana, e tão fraca como os outros. Custou-me muito aceitar a situação, mas a verdade é que o cocktail de químicos que me corria nas veias ajudou bastante: a sensação é de que nada que possa acontecer importa. Deixamos de nos preocupar, de pensar demasiado nas coisas, de tentar fazer tudo de forma perfeita. Deixamos de nos importar. As situações, as pessoas, os sentimentos, tudo fica um pouco entorpecido. É como se estivéssemos por baixo de água e a vida estivesse a desenrolar-se uns bons palmos acima da nossa cabeça, reflectida num qualquer ecrã de cinema (o que, para mim, nem era demasiado mau, uma vez que adoro cinema - o argumento é que podia ter um pouco mais de qualidade, mas não se pode pedir tudo). Esta minha ausência forçada, as minhas férias do mundo real, duraram exactamente um mês, que foi o tempo de a receita original se esgotar. Depois disso não houve desmame progressivo, não houve nada: estava farta de não ser eu e resolvi apostar num “cold turkey”. Resultou. Sem dramas, deixei para trás as minhas aventuras no maravilhoso mundo dos fármacos.

Ou pelo menos era o que eu pensava. Até ao ano passado. Uma tragédia, a maior de todas, atirou-me de novo para uma calma quimicamente imposta, para uma serenidade e um torpor que não fazem parte da minha personalidade. De início fez-me bem deixar tudo para trás, sentir menos, afogar a dor, esquecer. Mas agora é demasiado complicado voltar a ser eu, deixar de depender de máscaras, abandonar as “bonecas”. E, na tentativa, a cada 10 minutos sou capaz de oscilar entre momentos da mais pura euforia e instantes da mais profunda depressão. Todos perfeitamente justificáveis, dependendo de quem está a ganhar a batalha dentro da minha mente.

Por enquanto, aos poucos, vou lutando pela minha normalidade. Não é fácil, sobretudo quando se sente o medo das pessoas que nos acompanham, o receio estampado nos olhos quando percebem que o desespero pode regressar de repente, que a qualquer momento podemos precisar de outro tipo de apoio, que já não sabem como nos ajudar. Eu também sei que agora as coisas não vão ser tão fáceis, que posso perder e ficar presa no “Vale das Bonecas”.
Mas não me rendo assim. A luta continua.

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