segunda-feira, dezembro 17, 2007

Porquê que não caem de uma vez?

Sabem aqueles pesadelos que as pessoas têm com dentes, e que muita gente diz significarem morte de parentes? No meu caso, significam exactamente aquilo que são: pesadelos com dentes. A única diferença é que eu não costumo estar a dormir quando os tenho.

De facto, desde muito cedo me convenci de que seria bem melhor que os meus dentes caíssem todos de uma só vez, para fazer aquela fantástica operação que consiste em espetar parafusos no osso por baixo das gengivas e atarrachar um conjunto de perfeitos dentes de cerâmica, que asseguram um alinhado e brilhante sorriso Pepsodent. Assim, apesar do sofrimento excruciante, ficaria finalmente com uma figura tipo Kate Moss (já experimentaram comer após uma intervenção cirúrgica à boca? Garanto-vos que, apesar de hilariante para quem assiste, não tem piada nenhuma para quem o tenta) e acabava com esta história de ser um case study para todos os dentistas que tive o prazer (?) de conhecer.
É verdade, eu sou uma história dentária em permanente evolução, com novidades sempre à espera de acontecer. Quem me conhece já se ri cada vez que eu vou ao dentista, e de lá volto com menos uns bons maços de notas e com mais uma extensa lista de procedimentos que terei de levar a cabo sob ameaça de:

a) Em poucos anos se acentuar a mordida projectada, que me faria parecer a versão humana de um cavalo de corrida (apesar de útil quando se trata de mordiscar cenouras, tenho a certeza de que em nada me favoreceria, esteticamente falando).
»Solução: 2 anos de aparelho fixo colocado por um incompetente + 4 dentes do siso extraídos à força de martelada (estavam a nascer atravessados…) + 4 pré-molares arrancados para nova colocação de aparelho fixo (sim, outros 2 anos).

b) Em poucos anos se acentuar a redução crónica das gengivas/osso, que resultaria no facto de me caírem todos os dentes, aparentemente nos momentos mais inoportunos (pelo menos, a julgar pelas histórias que me contaram – é que há sempre um parente, amigo, ódio de estimação, que sofre do mesmo).
»Solução: quatro operações consecutivas para colocação de tecido gengival, que consistiram em retirar “matéria-prima” do céu-da-boca e cozê-la junto aos dentes problemáticos (sim, é tão doloroso e traumatizante quanto parece).

c) Em poucos anos se acentuar de tal forma o problema de bruxismo de que padeço (aparentemente, ranjo os dentes com uma força que seria capaz de elevar uma pessoa com cerca de 50 kg… impressionante, não?), que não só a minha imponente e dispendiosa dentadura ficaria reduzida em dois, como os meus maxilares e todos os músculos que os controlam se inflamariam e deformariam o meu adorável rosto.
(esta é a última, descoberta numa visita a um dentista de topo – isto é, que leva somas exorbitantes de dinheiro apenas para olhar para a causa dos meus problemas monetários).
»Solução – comprar uma goteira de €450 que tenho de passar a utilizar todas as noites (escusado será dizer que vai ser difícil ter conversas de cabeceira minimamente sensuais quando tudo o que se diz soa algo como “Gosssto quando me tocasss atsssim…deissa-me muito essitada…”) + consultas frequentes ao especialista, que insiste em me fazer electroterapia para reduzir o stress que causou o problema (segundo ele diz, em substituição das sessões de massagens e SPAs que deveria fazer regularmente e não posso…esta doeu mais que tudo).

Se a tudo isto juntarmos as fotos que todos os dentistas insistem em tirar à minha boca, dentes e gengivas, o facto de me considerarem material didáctico e o dinheiro com que estou a contribuir para a construção de piscinas e campos de ténis (se eu tiver um filho, vai para dentista!), percebe-se bem o ódio que começo a ter a uma das minhas mais marcantes características: a boca rasgada cheia de dentes.

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