segunda-feira, agosto 04, 2008

A importância de um ponto final.

Hoje estou virada para a pontuação. Desde que aprendi a escrever que sempre me fascinaram esses pequenos sinais que, aparentemente sem um sentido intrínseco, atribuíam tanto significado a uma frase ou palavra escritas.

Quando falamos cara a cara, é fácil transmitir os nossos sentimentos e emoções através de expressões faciais e corporais. Mesmo sem considerarmos o tom de voz, desde crianças que nos habituámos a interpretar as conversas pela postura do interlocutor. Por exemplo: palavras doces derramadas com uma inclinação de cabeça e um sorriso amarelo exalam ironia, um cerro franzido intensifica uma frase mais agreste, uma única sobrancelha elevada representa desconfiança ou uma interrogação surda, etc., etc. Mas quando escrevemos não temos qualquer auxílio visual ou auditivo. A maneira mais segura de indicarmos aos outros o que realmente significam as nossas palavras e frases, e uma das formas de enriquecermos a nossa retórica, é através da pontuação.

Ora, a vida profissional ensinou-me a moderar a utilização de sinais ortográficos. Cedo percebi que, quando se pretende gerar um comportamento, reticências deixam sempre demasiadas dúvidas no ar, e que um ponto de exclamação em qualquer comunicação laboral roça o insultuoso, sobretudo quando conjugado com um ponto de interrogação. Percebem?! Mas mais importante é a consciência de que a pontuação perde o seu poder quando usada em exagero, e, sobretudo, de que tende a ser o recurso de pessoas medíocres, sem capacidade para uma argumentação inteligente (normalmente usam e abusam de sequências de pontos de interrogação e exclamação, de forma absolutamente compulsiva, sem compreenderem que um simples ponto final tem muito mais significado).

Para mim, esta percepção assumidamente racional representa um dilema. Isto porque eu adoro pontuar. Se pudesse, pontuava tudo e mais alguma coisa. Passava o dia todo a colocar pontos de interrogação em frases afirmativas e reticências em frases exclamativas. Sobretudo, divertia-me a procurar orações em que pudesse acrescentar uma ou duas vírgulas, e a espremer mais meia dúzia de ideias entre uns bons parênteses. Mas sei que não posso, que não devo. Por isso, tento moderar a caneta (neste caso, o teclado) e, sempre que tenho um destes ataques, procuro lembrar-me que os momentos mais marcantes da nossa vida vêm seguidos de um bom e sólido ponto final (a intempestividade de um “Desaparece da minha vida!” ainda pode ser negociada, mas contra a determinação de um “Desaparece da minha vida.” não há argumentos possíveis).

PS – Numa aula de português, o professor pediu aos alunos para pontuarem a seguinte frase: “Uma mulher sem um homem não é nada”.
Os homens limitaram-se a colocar o previsível ponto final: “Uma mulher sem um homem não é nada.”
As mulheres pontuaram-na da seguinte forma: “Uma mulher. Sem, um homem não é nada.” (think out of the box).

Imagem: retirada do site pnepmacedo2008.blogspot.com

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2 Comentários:

Às 4 de agosto de 2008 às 16:14 , Anonymous Anónimo disse...

Não podia concordar mais.

Beijo.
Bela

 
Às 3 de setembro de 2008 às 12:17 , Blogger Unknown disse...

Esta Bela expressa-se mesmo mal. O que ela gostaria de ter diro era: "Não podia estar mais de acordo.". Ah! Ah! Ah! Ó Bela, porque não fazes um blog? Ia ser uma sangria-político-pop-irónica-de -insultos! Eu gostava. Beijos para as minhas duas amigas lindas*

 

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