Maria chorona
Antigamente contava pelos dedos de uma mão as pessoas que me tinham visto chorar, agora tenho de fazer contas às que ainda não me viram fazê-lo. Não sei bem o que se passou, mas entre a saída da adolescência e a entrada na vida adulta, alguma coisa mudou em mim. Alguma coisa que me parece estar a intensificar-se consideravelmente com a idade.
Há muitos (tantos…) anos atrás, eu fazia gala de nunca chorar à frente de ninguém. A minha ideia era esta: toda a gente quer bater no ceguinho, e se uma pessoa se mostra fragilizada à frente de quem quer que seja, essa pessoa vai, invariavelmente, ver-nos como alguém fraco e tentar trepar. Por isso mesmo, nessa altura só duas ou três pessoas bem próximas (leia-se “mãe” e “irmã”) viram lágrimas nos meus olhos.
Ora, isto funcionou muito bem enquanto os meus únicos problemas se limitavam às ocasionais chatices com amigas, às desilusões amorosas com o garanhão do liceu e aos conflitos que as saídas à noite desencadeavam em casa. A partir do momento em que pude ser considerada oficialmente adulta, a coisa começou a mudar: fosse um stress incontrolável no emprego, algumas situações pessoais angustiantes ou problemas incontornáveis numa relação íntima, o certo é que as lágrimas começaram a aparecer com bastante mais frequência. E de repente eu, que tinha por hábito caracterizar-me como uma pessoa “forte”, vi as minhas defesas caírem pouco a pouco, deixando expostos alguns sentimentos.
De início preocupou-me, achei que estava a ficar fraca, descontrolada, demasiado “gaja”. Irritava-me saber que esta ou aquela pessoa já me tinham visto chorar, que não conseguia corresponder à imagem que eu própria tinha construído para mim. Neste momento, acho que se continuasse e fazer jogos e resistências, mantendo todo o sofrimento fechado dentro de mim, ia acabar com o coração azedo e a alma em fanicos (já assisti a alguns casos pessoalmente). E como não tenho outro remédio senão aceitar que a minha natureza é esta (entre a pedra e a água, entre o calor e o frio, entre o dia e a noite, entre sorrisos e choros), passei a preocupar-me bem menos com o que os outros vão ou não pensar, e a preocupar-me bem mais comigo. Assim, tenho chorado sempre que algo o justifica, sempre que o meu coração sofre por alguma coisa: seja porque a vida afasta alguém importante (nos últimos tempos tem-no feito com considerável regularidade), seja porque num filme morre uma personagem adorável (as últimas lágrimas dedico-as ao “pior cão do mundo”).
E de uma coisa tenho a certeza: não são meia dúzia de lágrimas que mostram a essência de alguém, nem são elas que definem a sua força ou fraqueza. O que importa são as nossas atitudes e a postura que assumimos, o carácter que revelamos nas alturas certas. Com choros ou sem eles, o que não devemos é permitir que abusem ou tripudiem de nós. Afinal, se o camelo não se baixasse não lhe punham a carga em cima (ainda que estivesse a chorar copiosamente…).
Imagem: retirada do site noticiasimpossiveis.wordpress.com
Etiquetas: Me myself and I
2 Comentários:
As minhas penúltimas também foram para "o pior cão do mundo". Muitas mais hão-de vir. O importante é não ser "camelo". Quase literalmente : ).
Lov u.
Breath*
Breath, és uma putóide.
E isto é o melhor que tenho para te dizer!
Eu chorei mais de 45 minutos com o Gran Torino e vocês? Fraquiiiinhas!
Beijo.
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