segunda-feira, abril 06, 2009

Maria chorona

Antigamente contava pelos dedos de uma mão as pessoas que me tinham visto chorar, agora tenho de fazer contas às que ainda não me viram fazê-lo. Não sei bem o que se passou, mas entre a saída da adolescência e a entrada na vida adulta, alguma coisa mudou em mim. Alguma coisa que me parece estar a intensificar-se consideravelmente com a idade.

Há muitos (tantos…) anos atrás, eu fazia gala de nunca chorar à frente de ninguém. A minha ideia era esta: toda a gente quer bater no ceguinho, e se uma pessoa se mostra fragilizada à frente de quem quer que seja, essa pessoa vai, invariavelmente, ver-nos como alguém fraco e tentar trepar. Por isso mesmo, nessa altura só duas ou três pessoas bem próximas (leia-se “mãe” e “irmã”) viram lágrimas nos meus olhos.
Ora, isto funcionou muito bem enquanto os meus únicos problemas se limitavam às ocasionais chatices com amigas, às desilusões amorosas com o garanhão do liceu e aos conflitos que as saídas à noite desencadeavam em casa. A partir do momento em que pude ser considerada oficialmente adulta, a coisa começou a mudar: fosse um stress incontrolável no emprego, algumas situações pessoais angustiantes ou problemas incontornáveis numa relação íntima, o certo é que as lágrimas começaram a aparecer com bastante mais frequência. E de repente eu, que tinha por hábito caracterizar-me como uma pessoa “forte”, vi as minhas defesas caírem pouco a pouco, deixando expostos alguns sentimentos.
De início preocupou-me, achei que estava a ficar fraca, descontrolada, demasiado “gaja”. Irritava-me saber que esta ou aquela pessoa já me tinham visto chorar, que não conseguia corresponder à imagem que eu própria tinha construído para mim. Neste momento, acho que se continuasse e fazer jogos e resistências, mantendo todo o sofrimento fechado dentro de mim, ia acabar com o coração azedo e a alma em fanicos (já assisti a alguns casos pessoalmente). E como não tenho outro remédio senão aceitar que a minha natureza é esta (entre a pedra e a água, entre o calor e o frio, entre o dia e a noite, entre sorrisos e choros), passei a preocupar-me bem menos com o que os outros vão ou não pensar, e a preocupar-me bem mais comigo. Assim, tenho chorado sempre que algo o justifica, sempre que o meu coração sofre por alguma coisa: seja porque a vida afasta alguém importante (nos últimos tempos tem-no feito com considerável regularidade), seja porque num filme morre uma personagem adorável (as últimas lágrimas dedico-as ao “pior cão do mundo”).

E de uma coisa tenho a certeza: não são meia dúzia de lágrimas que mostram a essência de alguém, nem são elas que definem a sua força ou fraqueza. O que importa são as nossas atitudes e a postura que assumimos, o carácter que revelamos nas alturas certas. Com choros ou sem eles, o que não devemos é permitir que abusem ou tripudiem de nós. Afinal, se o camelo não se baixasse não lhe punham a carga em cima (ainda que estivesse a chorar copiosamente…).

Imagem: retirada do site noticiasimpossiveis.wordpress.com

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2 Comentários:

Às 6 de abril de 2009 às 13:51 , Anonymous Anónimo disse...

As minhas penúltimas também foram para "o pior cão do mundo". Muitas mais hão-de vir. O importante é não ser "camelo". Quase literalmente : ).

Lov u.

Breath*

 
Às 6 de abril de 2009 às 18:10 , Anonymous me, myself and i disse...

Breath, és uma putóide.
E isto é o melhor que tenho para te dizer!

Eu chorei mais de 45 minutos com o Gran Torino e vocês? Fraquiiiinhas!

Beijo.

 

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