Os monólogos da Vagina, Eve Ensler
Este post inaugura mais um tema do meu blog (“Letra a letra”), no qual explorarei alguns dos livros que vou lendo, bem como os efeitos, ideias e emoções que os mesmos me despertam.E nada melhor para abrir do que “Os monólogos da Vagina”, de Eve Ensler. Já tinha ouvido falar imenso desta peça, que espicaçou preconceitos, revolucionou mentalidades e abanou a sociedade assim que estreou há cerca de 15 anos (e que continua a fazê-lo ainda hoje). O que eu não sabia era que estava editada em livro, com uma série de extras ao longo dos quais se exploram os efeitos avassaladores que a sua representação despoletou.
Levei cerca de 3 dias a lê-lo de fio a pavio. E fiquei a perceber o que arrastou milhares de pessoas a inúmeros auditórios, das mais conceituadas salas a nível mundial até pequenos espaços improvisados em países tão remotos como o Paquistão. Percebi o que juntou actrizes mundialmente famosas com outras tantas desconhecidas, o que uniu políticas e universitárias, transexuais e reformadas sob um só lema. Percebi porquê que esta peça tocou homens e mulheres de todo o mundo, porquê que tentaram censurá-la em alguns locais e porquê que a palavra do título ficou reduzida a um “V.” em tantos outros.
A razão de todo o alarido começa na utilização de uma palavra subversiva: Vagina. Assim mesmo, sem dourar a pílula, esta palavra foi atirada para a cara das pessoas, nomeando o inominável e dando voz ao que deveria ficar calado. Pela primeira vez, mulheres de diferentes estratos sociais, das mais variadas idades e com as mais distintas experiências de vida falavam do seu órgão sexual, falavam das suas vaginas e do que elas diriam se tivessem a palavra. E este facto revelou-se uma fonte de poder feminino, uma forma das mulheres assumirem a sua importância, um modo de exigirem a eliminação de todas as formas de violência contra elas e o fim da impunidade para os que cometem tais atrocidades. Dando voz às vaginas, falando delas, esta peça lançou uma luz forte e de impacto inquestionável sobre o assunto. Ao longo dos monólogos, podemos ouvir “vaginas” falarem sobre a forma como foram tratadas em tempos de guerra, como tiveram de se calar numa sociedade que as oprimia (e ainda oprime), como lidaram com a violência doméstica, como encararam a menarca, como descobriram o poder da sexualidade, como reagiram a primeira vez que se viram ao espelho (pois é, os homens lidam desde pequenos com o seu órgão sexual, mas ainda há milhares de mulheres que nunca “se viram” ao espelho), etc. É um texto que emociona, enraivece, faz rir e chorar, um texto que liberta os temores e as fantasias de mulheres como nós, mas sobretudo é um texto possante que não deixa ninguém indiferente.
Depois de ler o livro, percebe-se porquê que uma simples peça de teatro levou à fundação de um movimento de direitos humanos (o “Dia V”) responsável pela angariação de milhões de dólares, pela criação de inúmeras casas de acolhimento, e pela mobilização de milhares de pessoas por todo o mundo. Impressionante, não?
Para terminar, deixo-vos algumas das perguntas que guiaram as inúmeras entrevistas das quais resultaram os famosos monólogos:
.“Que roupas vestiria a tua vagina?”
.”Se a tua vagina falasse, o que diria em poucas palavras?”
.“A que cheira a vagina?”
.“O quê que a tua vagina te faz lembrar?”
.“O que há de especial na tua vagina?”
E para vos inspirar nas respostas, fica um dos muitos factos relativos à vagina apresentados no livro:
.“A função do clítoris é bastante simples. É o único órgão do corpo concebido puramente para o prazer. O clítoris é simplesmente um conjunto de nervos. É formado exactamente por 8.000 fibras nervosas. Tem uma concentração de fibras nervosas superior à de qualquer outra parte do corpo (…) o dobro da do pénis. Quem precisa de uma pistola quando se tem uma semi-automática?”
(Woman: An intimate geography, Natalie Angier).
Imagem: retirada do bolg http://nascidosdomar.blogspot.com
Etiquetas: Letra a letra

1 Comentários:
Eu hoje vestia a minha com um cascolinho...hummm...havia de arranjar um cascolinho adaptado ao efeito, pois!
E hurra para os orgãos concebidos puramente para o prazer! Hurraaaaa!!! :P
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