segunda-feira, setembro 22, 2008

Letras e Fitas

Duas das minhas mais avassaladoras paixões na vida são a Literatura e o Cinema. Encaro estes 2 temas como se fossem complementares, como se um ajudasse a compreender e a amar o outro, como se a um ponto ambos se pudessem cruzar, formando um só.

Assim, eu adoro ir ver os filmes que resultaram de um livro que apreciei e, apesar disto causar estranheza à maioria das pessoas, acontece-me frequentemente comprar o livro que originou determinado filme. Para mim, ambas as situações fazem perfeito sentido. É que eu gosto de ver se o realizador interpretou da mesma forma que eu as personagens e situações imaginadas pelo autor, se conseguiu transpor para a tela as imagens, aromas, desejos e emoções que eu absorvi durante a leitura. Sim, porque quando um livro me entusiasma, eu começo inevitavelmente a moldar o respectivo filme, completo com casting, reperage, banda sonora e tudo. Na minha mente, eu sei perfeitamente quem deveria interpretar o galã espadaúdo de olhos melosos ou a jovem sedutora de curvas estonteantes, sei exactamente qual o local em trocariam os primeiros olhares de desejo, e quase oiço em surround a música sensual que serviria de cama à sua paixão.

No entanto, devo dizer que (na maioria das vezes) o livro é inevitavelmente melhor que o filme: o enredo mais envolvente, as personalidades mais ricas, as relações mais intrincadas e perturbadoras. Eu até percebo que, por questões de intensidade ou ritmo de filmagem, tenha de se eliminar ou acrescentar uma/duas situações ou personagens. Agora, não posso perceber é que desapareçam, sem qualquer explicação plausível, linhas de parentesco completas e situações absolutamente inebriantes e inesquecíveis (um dos meus maiores desgostos foi assistir à versão cinematográfica de “A casa dos espíritos”… nem os actores consagrados e o solo português conseguiram anular a dor de ver esfarrapada a obra de Isabel Allende).

Excepção feita ao único filme que, para mim, fez jus à obra de que germinou (apesar de, pontualmente, também se ter afastado da mesma). Com um casting absolutamente inquestionável, cenários de uma grandiosidade assombrosa, e interpretações de tirar o fôlego, nem a troca de realizadores e a têmpera de David O’Selznick beliscaram a obra-prima que é “E tudo o vento levou.”, de Victor Fleming. Tenho a certeza que nem a própria Margaret Mitchell distinguiria Clark Gable e Vivien Leigh de Rhett Buttler e Scarlett O’Hara. Como também estou certa que esta perdoou o acréscimo do advérbio de modo à mais célebre frase do filme: “Frankly my dear, I don’t give a damn.”.

Imagem: retirada do blog pipocasetretas.wordpress.com

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