segunda-feira, setembro 01, 2008

O que não tem remédio, remediado está.

Este é um dos meus provérbios favoritos. Já o apliquei várias vezes ao longo da minha vida, e ajuda-me bastante a colocar as coisas em perspectiva.

Eu tenho por tendência ver sempre o copo meio vazio e, sobretudo, dramatizar todas as situações menos favoráveis. Quando era mais nova (oh, não! Eu escrevi mesmo isto?...), tudo o que me acontecia de menos bom (fosse um cataclismo à escala mundial, fosse uma unha partida) despoletava de imediato as 5 fases definidas pela Psicologia. E não estou a exagerar.
Para se ter uma noção das minhas reacções, tem de se fazer um exercício de imaginação. Vamos lá: festa importante, eu, 16 anos, mini-saia, um sussurro de uma amiga: “Tens um foguete na meia…”:
- Choque - Com o corpo em tensão, ligeiramente inclinado para a frente, e o pescoço a acompanhar as frases em vai e vem, cuspo a pergunta: “O quê?! O quê?!”
- Negação – A caminhar em semicírculo, a cabeça a abanar para a esquerda e para a direita, as mãos a abrir e a fechar à altura do peito: “Isto não está a acontecer. Não, não, não, não a mim...”
- Raiva – Corpo ligeiramente abaixado, cotovelos encostados à cinta, punhos cerrados: “Oh, pá! Mas porque raio é que isto me foi acontecer? Estou farta disto tudo. Sempre a mim, sempre a mim…”
- Depressão – Sentada num qualquer canto, corpo dobrado, cabeça apoiada nas mãos, lágrimas a assomar aos olhos: “Eu não acredito que isto aconteceu mesmo… e agora, meu Deus, e agora?...”
- Aceitação – Cabeça inclinada para trás, olhar suspenso no ar, boca contraída, suspiro profundo: “Olha, o que não tem remédio, remediado está.”

E lá está o nosso provérbio. Hoje em dia já aprendi a controlar um pouco melhor as emoções: depois de passado o choque, e quando estou mesmo a atingir aquela fase de desespero em que me apetece gritar bem alto na cara de toda a gente “Isto não ME pode ter acontecido!”, repito este mantra com calma e convicção. Estranhamente, até porque não há verdade de La Palisse mais óbvia que esta, ajuda-me imenso a encarar situações difíceis, a aceitar a realidade e, sobretudo, a sair do “e se” e a procurar um caminho alternativo.

Imagem: retirada do site rataplas.wordpress.com ("The scream" - Edvard Munch; 1893)

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