segunda-feira, maio 25, 2009

A esperança

A esperança pode ser a única coisa que resta ao ser humano, mas também é um dos sentimentos mais eficazes para destruir esse mesmo ser humano.


Não há pior que o som de uma esperança a ser esmigalhada. Ela anda por ali, não é?, a nossa esperança, a passear, linda e loira, com enormes olhos azuis, a espalhar desejos e projectos à sua volta, passarinhos e borboletas em seu redor, e nós a pensar “se calhar vai mesmo correr tudo bem!”. E, de repente, vem um pé gigante de uma nuvem negra parada no céu e pimba (influências de Monty Phyton, o quê que querem?!)! Lá fica a nossa esperançazinha toda esmagadinha no meio do chão, os caracóis do cabelo esticados à bordoada, completamente knock out, sem dizer ai nem ui. E, com ela, lá vai também para baixo o nosso sorriso e o ânimo tão bem preservadinho no cantinho do nosso coração.


Sempre que uma esperança morre, ia jurar que oiço os sinos tocarem também pela pessoa a quem pertencia. E não se pode criticar. É que, às vezes, a vida parece mesmo uma anedota. É como se uma entidade divina estivesse lá em cima, a rir-se de nós e a dizer aos amigos “Eh pá, vocês lembram-te daquele tipo que queria abrir uma leitaria em Freixo de Espada à Cinta? Sim? Nem imaginam o que eu fiz às vacas…”, e os outros, “Eh pá, oh Deus, tu és mesmo um pândego sem emenda…”. E entretanto nós estamos cá em baixo a pensar “Mas porque raio é que eu não desisto de uma vez? Está-se mesmo a ver que Deus não gosta nada de mim!”.



É, apesar de perceber que os seres humanos têm de saber reagir às adversidades e seguir em frente, que cada vez que se cai tem de se apanhar uma pedra (segundo dizia Fernando Pessoa, para se construir depois um castelo), que se não fosse isso o mundo já não existia, etc., etc.…, há alturas em que dá mesmo vontade de esganar as pessoas que nos dizem para “mantermos a esperança”.



Imagem: retirada do site www.myspace.com


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segunda-feira, maio 18, 2009

Aperta aqui, estica ali

Cócegas nas costas. Provavelmente a minha actividade preferida em todo o mundo. Não consigo bem explicar porquê, mas parece que cada célula epidérmica das minhas costas está ligada a um qualquer centro de prazer instalado bem lá no fundo do meu cérebro. Sou tão obcecada com isto que, sempre que penso em ganhar o Euromilhões (outra coisa que me traria extremo prazer), penso em contratar uma pessoa única e exclusivamente para me fazer cócegas nas costas durante 1 (vá lá, 2) horas por dia.

Na impossibilidade de realizar este sonho nos tempos mais próximos, optei pelo sucedâneo: as famosas massagens. A febre começou com uma prenda iluminada, na forma de uma fantástica massagem com pedras quentes, no Hotel Sheraton (eu sei que já falei disto, mas é um tema que me é querido). Depois de 2 horas de maravilhoso relaxamento, em que cada pedacinho de pele agradecia aos deuses ter sobrevivido para experimentar aquilo, decidi que merecia uma daquelas sessões pelo menos uma vez por mês. Claro que, depois de uma estimativa orçamental, revi a minha decisão e passei ao plano B: o Sheraton foi substituído pelo meu Centro de Estética em Braga (ou seja, pela minha esteticista) e a massagem com pedras quentes de duas horas por uma massagem anti-celulítica de uma.

Está bem que não é a mesma coisa, mas esta massagem mensal, apesar de evidenciar parcos resultados (segundo me dizem, tinha de parar de ser forreta e fazer pelo menos uma sessão por semana, segundo eu lhes digo – e à minha consciência –, vai servindo para manutenção), inclui um ambiente com aroma e banda sonora relaxantes, uma técnica simpática e uma atenção especial às minhas costas. E sabe mesmo bem.

Imagem: retirada do site www.webluxo.com.br

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segunda-feira, maio 11, 2009

As vocações, os talentos e os oportunismos

Sempre ouvi dizer que, para que uma vida valha a pena, temos de fazer 3 coisas antes de morrer: ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. No que me diz respeito, as minhas 3 sobrinhas lindas preenchem quaisquer instintos maternais (parafraseando alguém, fico muito feliz quando chegam e fico muito feliz quando se vão embora) e a última árvore com que me cruzei revelou um profundo desprezo pelos meus esforços no sentido de lhe assegurar a fotossíntese. Agora no que toca a escrever um livro, posso dizer sem exageros que é um dos meus maiores sonhos.

No entanto, eu tenho um profundo respeito, quase reverência, pela arte da escrita. Para mim, escrever é um acto superior, um acto de inspiração divina, o resultado de uma mente superior. Não é qualquer um que escreve um livro. Ou pelo menos costumava ser assim. É verdade. Depois de anos a pensar que não era digna de escrever um livro, de sequer ter a audácia de pensar que me poderia comparar a um “Escritor”, afinal agora descubro que a solução sempre esteve à minha frente. Para escrever um romance Best seller só tenho de me tornar pivot de um telejornal (e escrever sobre o nosso passado, seja no séc. XIX ou nos anos setenta, seja em Angola, Brasil ou S. Tomé) ou apresentadora de um programa televisivo com grandes audiências (e escrever sobre amor traído, amor desiludido ou qualquer outro tipo de amor caracterizável com um adjectivo acabado em “ido”). E pronto: não há que temer a falta de talento, nem suportar as rejeições por parte das editoras, está assegurada a visita da musa inspiradora.

Sinceramente, eu até acredito que muita desta gente tenha algum talento, mas parece-me é estranho que todo ele se revele em simultâneo e com incríveis estratégias de marketing por trás. É ainda mais difícil de aceitar do que, de repente, todos os manequins e modelos portugueses tenham encarnado a Meryl Streep e falem da sua intensa vocação e profunda luta para “encarnar” personagens com a profundidade dramática de uma tábua de passar a ferro. Haja paciência!

Imagem: retirada do site http://www.pqn.com.br/

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segunda-feira, maio 04, 2009

O dilema da lingerie

Não sei se é só comigo, se a lingerie não me favorece, mas o facto é que naqueles momentos especiais esta não parece durar mais de ½ minuto nos locais devidos. Apesar dos meus esforços de manter uma pose de diva de cinema, seminua, semi-vestida, durante pelo menos 5 minutos, as minhas peças interiores parecem ter um íman especial que as dispara em direcção ao candeeiro ou à cómoda nos primeiros 10” de qualquer encontro amoroso.

E foi por isso que comecei a ter a insidiosa suspeita de que a lingerie só agrada às mulheres. De facto, não é preciso ser um cientista aeronáutico para saber que quando um homem olha para um catálogo Victoria Secret está a apreciar tudo menos os lacinhos de seda das ligas e a qualidade dos acabamentos nos corpetes. O que me parece é que a maior parte deles acaba estrábico de tanto espreitar pelos buraquinhos do soutien de bordado inglês com que a Gisele Bunchen aparece na 3ª página do dito livrinho. Mas neste caso eles não têm escolha senão mirar e remirar, não é como se a menina se fosse materializar à sua frente. Agora connosco, suas companheiras do dia-a-dia, a coisa pia diferente. Usando uma metáfora que lhes é muito querida, para quê que eles hão-de ficar a apreciar a carroçaria de um bólide, se podem entrar e experimentar o motor?
Assim, eu confesso que fico cheia de inveja quando alguma amiga me confessa que o seu namorado/marido adooora lingerie e que exige ver uma passagem de modelos todas as noites. E porquê? Primeiro porque eu adoooro lingerie e segundo porque este tipo de macho já parece estar em vias de extinção. Apesar de tudo o que a publicidade e as revistas “especializadas” nos dizem, todos os testemunhos masculinos que tenho ouvido ultimamente apontam para o facto de eles preferirem a coisa ao natural (sem qualquer trocadilho malicioso). Quando confrontados com a pergunta “Mas então vocês não gostam de lingerie?”, a resposta parece ser “Não ligo muito.” ou então “O que eu gosto mais é de a tirar…”, seguida de uma piscadela de olho acompanhada de um sorriso de mecânico libidinoso.

Assim, e apesar de ainda existirem aqueles rapazes dados à sensualidade que apreciam um belo fio dental, o que me parece é que a maioria das mulheres anda a investir conjuntinhos minimalistas mais para si próprias, convencendo-se que será desta vez que eles vão descobrir o encanto de um cinto de ligas. É certo que a fatiota até funciona se aliada a uma escapadela fora de portas (em que eles temem ser apanhados) ou a uma experiência sensual paralela (em que eles têm de olhar sem tocar), mas no interior da alcova os senhores parecem preferir o regresso aos tempos de Adão e Eva: tudo bem visível e acessível.

Imagem: retirada do site borboletamix.com.br

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