terça-feira, junho 23, 2009

Era uma vez uma Gata

Há cerca de 9 anos, uma vizinha, sabendo que a minha família é constituída por Cat people, levou à minha mãe uma gatinha bebé. A ideia seria ficarmos com ela, mas a minha mãe, cansada de sofrer por lhe envenenarem os animais de estimação (sim, ainda há monstros que fazem coisas como esta), recusou. A alternativa? Segundo a minha vizinha, seria deitar o bichinho fora. E foi assim que a Gata entrou na minha vida. Incapaz de deixar que o animal (falo da minha vizinha) se livrasse da bolinha de pêlo, levei-a para minha casa (a bem da verdade diga-se que, na altura, estava em casa alheia, mas o dono ficou ainda mais rendido que eu à pequena visitante).


Apesar de obviamente arraçada de siamês (o tom azul dos olhos prova-o), a minha gata não era um gatinho lindinho, como nos habituamos a ver: estava bastante magra e a cabeça era um pouco desproporcional relativamente ao corpo (o que, quando andava, lhe dava um ar de boneco articulado, com as patas a tentarem encontrar o ponto de equilíbrio que a impedisse de tombar para a frente); por seu lado, as orelhas eram demasiado grandes para a cabeça e, para completar, os olhos, também enormes, acusavam um ligeiro estrabismo. Estão a ver, não? Parecia uma versão felina do Gremlin, o que justifica a primeira reacção do meu pai ao vê-la: “Que bicho feio!”. Por isso me admiro tanto que se tenha transformado num dos gatos mais bonitos que já vi: a pelagem listada num jogo de tons creme claro e cinza escuro, uns fantásticos olhos azuis, realçados com risco negro natural, um focinho de traços fortes e uma elegância ímpar.


Mas se o aspecto actual conquista qualquer pessoa, o que realmente a torna única é o seu feitio especial. Além dos habituais estragos na mobília, cortinas e tapetes, esta gatinha sempre gostou de acelerar a grande velocidade pelos corredores da casa, derrapando nas esquinas e embatendo de frente contra qualquer obstáculo (influências do "pai"?...), de trepar as laterais das portas, até ficar mais ou menos ao nível dos nossos olhos, só para nos atirar um “miau!”, de levar uns snacks da cozinha para a sala, acompanhando-nos nas maratonas em frente à televisão (e quando falo de snacks, refiro-me, por exemplo, a 2 fatias de pão com uma de fiambre…), de se atirar pela janela do 3º andar atrás de um pombo mais distraído, etc, etc. E estas diabruras não são nada ao pé de uma personalidade verdadeiramente vincada: dos amuos, quando por alguma razão não se lhe dá a atenção que ela julga merecer (que incluem sentar-se de costas para nós, mirando distraidamente por cima do ombro), aos lendários ataques de ciúmes quando dirigimos a atenção para alguém que não a deusa em forma de gata (desde afastar mãos com as 2 patas a deitar-se em cima da cabeça que esteja no colo pretendido, vale tudo).


Nesta gata se conjuga tudo o que associamos a um felino. Daí que, quando foi necessário dar-lhe um nome, optei pelo que melhor a descreve: Gata. Assim mesmo, com letra grande e garras de fora. Porque esta não é uma mera gata, é a Gata.

Imagem: Gata, 2004

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