segunda-feira, março 10, 2008

Agora é tudo gay?

Não estou a perceber muito bem o que se está a passar, mas parece que todo o universo está a virar para o outro lado. Como é que eu sei? Fácil. Experimentem elogiar fisicamente um homem a outro homem e, em 75% dos casos, é vê-lo a responder prontamente: “Esse gajo é gay.”. Ou, numa vertente mais moderada, “A mim, parece-me que esse gajo é gay.”.

A ser verdade, confesso que este facto me deixa algo desconcertada e bastante deprimida. Então eles já são tão poucos e ainda se põem com estas brincadeiras? Já não basta termos de nos preocupar com o restante mulherio, ainda temos de começar também a deitar olhares laterais e a rosnar para os engraçadinhos que se entretêm a coleccionar conquistas do mesmo sexo? E depois admiram-se que as mulheres tenham cada vez mais achaques e crises nervosas…
A ser mentira, o que me parece bem mais provável, devo dizer que os homens estão a ficar bastante parcos em imaginação. Só isso explica o facto de recorrerem sucessivamente, e em bloco, ao mesmo argumento. Será que eles não temem que, com a habitual argúcia feminina, nós desconfiemos que é pouco provável que o Brad Pitt, o George Clooney, o bonitão do 3º esquerdo, o simpático da mercearia e o professor do ginásio sejam todos irremediavelmente gays? E que só a pessoa que emite a opinião e mais meia dúzia de amigos próximos façam ainda parte do verdadeiro clube da testosterona?

E tudo isto para quê, exactamente? Para nos desmotivarem de sair em busca de paisagens mais verdejantes (“Não adianta, que dali não levas nada.”)? Para se auto promoverem aos nossos olhos (“Posso não ter aqueles abdominais a lembrar a escadaria do Bom-Jesus, mas ao menos sou muito macho.”)? Porque nos querem irritar profundamente, provocando uma fúria argumentativa com a qual não sabem lidar (“Mas como é que tu sabes disso? Quem foi que disse? Tu viste ou estás a inventar? Onde estão as provas?”)? Porque é o que eles gostariam de ouvir na mesma situação (“Ai ela é isso? Que fiiiixxeee!…”)?

Seja porque razão for, devo dizer que esta atitude de total negação e aniquilação da concorrência através do boato não fundamentado não resolve nada. Primeiro, porque quem conhece as mulheres sabe que, quando apaixonadas, estamos sempre preparadas para tentar mudar, com doses excessivas de amor e dedicação, qualquer traço de carácter mais ou menos vincado (incluindo um pequeno pormenor como a orientação sexual). Segundo, porque cada vez mais alinhamos pela cartilha de S. Tomé, e tendemos a querer comprovar com experiências empíricas os factos que nos colocam como irrefutáveis (afinal, podemos não chegar ao Brad, mas o jeitoso do Holmes Place está ali mesmo, à mão de semear). Terceiro, porque com a generalização o argumento perde a força (vá lá, senhores: não podem desatar a dizer que todos os homens dos arredores se converteram, sem levantar algumas suspeitas).

Para terminar, um aviso bem-humorado: usem a imaginação e mudem o disco, senão ainda correm o risco de começarmos a questionar o acesso a tanta informação privilegiada sem que se faça parte do clube.

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