segunda-feira, agosto 25, 2008

Provérbios, ditos e dizeres

Eu adoro provérbios. Adoro-os pela simplicidade com que resumem inúmeras situações que encontramos ao longo da vida, e adoro-os porque nos indicam, metaforicamente ou não, o caminho a seguir. Por isso, recorro a eles frequentemente, quer para mim própria, quer para aconselhar terceiros.

Diz-me o senso comum que a sabedoria popular tende a acertar naquilo que diz. O facto de ser um saber de experiência feito, recolhido ao longo do tempo por inúmeras vidas, assegura-lhe a devida credibilidade. E, apesar de muitas coisas terem mudado desde o aparecimento deste ou daquele provérbio (“Em Abril, águas mil.”), e de alguns se destinarem apenas a aplacar os nossos medos e alegrar as nossas vidas (“Boda molhada, casamento abençoado.”), a maior parte continuam a ser válidos e a aplicar-se à realidade (“Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.”).

E assim nos aparece a vida, sublimada nos vários provérbios e ditos que o Povo teve a gentileza de compilar ao longo dos anos. Para melhor se perceber de que forma tenho vindo a utilizar estas pequenas pérolas na minha caminhada para o inevitável, vou começar a explorar algumas neste meu espaço. Vamos a ver como corre…

Imagem: retirada do site www.pititi.com

Etiquetas:

segunda-feira, agosto 18, 2008

Confrontos


Os brasileiros têm um ditado que reflecte de forma perfeita a minha posição face aos confrontos: “Eu dou um boi para não entrar numa discussão. Mas, depois de lá estar, dou uma boiada para não sair.”.

De facto, eu odeio discutir. Nada me incomoda mais do que pensar em tirar satisfações com outra pessoa, em elevar a voz e ter de impor (de forma mais ou menos agressiva) as minhas opiniões ou críticas. Se existem pessoas que anseiam o confronto, pessoas para as quais este funciona como um escape, e que inclusive se oferecem para debater as questões e chatices dos outros (eu já conheci - e ainda conheço – algumas), eu não sou uma delas. Apesar de secretamente invejar esta apetência e, sobretudo, a capacidade de entrar em conflito com os outros sem pestanejar, eu nunca o consigo fazer com leveza e desenvoltura. Tento sempre seguir a via da diplomacia e da argumentação calma e racional. Mas nem sempre resulta.

Ora, é nestes casos em que não resulta que o caldo se entorna. Porque se é certo que evito iniciar ou dar seguimento a conflitos, também o é que não lhes fujo, nem levo desaforos para casa. Quando entro numa situação destas, das duas uma: ou já não existe outra forma de resolver a situação, ou fui provocada com algum comentário menos feliz (leia-se “idiota”). Assim, uma vez envolvida num confronto seja com quem for, o meu rastilho é muito curto e os meus argumentos tendem a evoluir da moderação e racionalidade para o acinte. Demasiadas vezes atiro a matar, procurando anular o interlocutor de imediato e sem retaliação. Ás vezes corre bem (quando a inteligência de argumentos e postura mútuas encerram a questão rapidamente), outras nem por isso (quando não há argumentação que valha e a discussão escala e escala até atingir um ponto sem retorno).

Para finalizar, se tivesse de resumir a minha postura sobre este assunto teria de conjugar 2 vertentes:
- Nunca se deve provocar uma discussão, evitando confrontos fortuitos;
- Mas, “se te morderem, lembra-te que também tens dentes” porque “quanto mais te baixas mais se te vê o …”.

Imagem: retirada do blog oficinadegerencia.blogspot.com

Etiquetas:

segunda-feira, agosto 11, 2008

Blood runs thicker than water

Eu nunca quis ter filhos. Mas, se um dia viesse a decidir nesse sentido, gostaria de ter dois, e nunca menos que isso. Esta opção aparentemente contraditória tem uma explicação muito simples: eu adoro ter irmãos. E não passa só por eu ter os melhores irmãos do mundo (!), passa pelo facto de eles terem enriquecido de forma inquestionável a minha infância e adolescência, de terem ajudado a moldar aquilo em que me tornei.

Eu sou a filha mais nova de uma família de 3 irmãos, sendo que 11 e 12 anos me separam dos meus manos. Assim, a minha infância foi passada a espiar os seus segredos, a imitar as suas modas e atitudes, a exigir a sua atenção e a contar com eles para me ensinarem tudo e mais alguma coisa (à minha irmã devo a desenvoltura na língua inglesa e o interesse pela dança, ao meu irmão a cultura musical e o domínio do traço quando desenho). Na época difícil da adolescência, fui amparada sempre que tropecei, nunca deixando de recorrer a um ou a outro, e encontrando sempre uma mão estendida (com a minha irmã passei, aos 13 anos, as primeiras férias sem “os pais”, ao meu irmão agradeço ainda o meu primeiro carro). Claro que por vezes senti o peso da sua ascendência sobre mim, o poder de dois irmãos mais velhos habituados a controlar o benjamim da família. Mas também nunca deixei de sentir (sempre, mas sempre) a sua asa protectora e o seu amor incondicional. Na minha irmã reconheço a minha mais fiel confidente e no meu irmão o meu principal defensor.

Passámos por muito juntos, e juntos conseguimos ultrapassar situações demasiado difíceis para encarar sozinhos. Aprendemos a ouvir-nos, a respeitar-nos e a contar uns com os outros, a saber que o podemos fazer. Acompanhando de tão perto o evoluir das suas vidas, tirei preciosas lições para a minha, e acredito que também eu os inspirei de alguma forma. Não trocaria o nosso triunvirato por qualquer outra alternativa.

Imagem: retirada do blog gostodeopostos.blogspot

Etiquetas:

segunda-feira, agosto 04, 2008

A importância de um ponto final.

Hoje estou virada para a pontuação. Desde que aprendi a escrever que sempre me fascinaram esses pequenos sinais que, aparentemente sem um sentido intrínseco, atribuíam tanto significado a uma frase ou palavra escritas.

Quando falamos cara a cara, é fácil transmitir os nossos sentimentos e emoções através de expressões faciais e corporais. Mesmo sem considerarmos o tom de voz, desde crianças que nos habituámos a interpretar as conversas pela postura do interlocutor. Por exemplo: palavras doces derramadas com uma inclinação de cabeça e um sorriso amarelo exalam ironia, um cerro franzido intensifica uma frase mais agreste, uma única sobrancelha elevada representa desconfiança ou uma interrogação surda, etc., etc. Mas quando escrevemos não temos qualquer auxílio visual ou auditivo. A maneira mais segura de indicarmos aos outros o que realmente significam as nossas palavras e frases, e uma das formas de enriquecermos a nossa retórica, é através da pontuação.

Ora, a vida profissional ensinou-me a moderar a utilização de sinais ortográficos. Cedo percebi que, quando se pretende gerar um comportamento, reticências deixam sempre demasiadas dúvidas no ar, e que um ponto de exclamação em qualquer comunicação laboral roça o insultuoso, sobretudo quando conjugado com um ponto de interrogação. Percebem?! Mas mais importante é a consciência de que a pontuação perde o seu poder quando usada em exagero, e, sobretudo, de que tende a ser o recurso de pessoas medíocres, sem capacidade para uma argumentação inteligente (normalmente usam e abusam de sequências de pontos de interrogação e exclamação, de forma absolutamente compulsiva, sem compreenderem que um simples ponto final tem muito mais significado).

Para mim, esta percepção assumidamente racional representa um dilema. Isto porque eu adoro pontuar. Se pudesse, pontuava tudo e mais alguma coisa. Passava o dia todo a colocar pontos de interrogação em frases afirmativas e reticências em frases exclamativas. Sobretudo, divertia-me a procurar orações em que pudesse acrescentar uma ou duas vírgulas, e a espremer mais meia dúzia de ideias entre uns bons parênteses. Mas sei que não posso, que não devo. Por isso, tento moderar a caneta (neste caso, o teclado) e, sempre que tenho um destes ataques, procuro lembrar-me que os momentos mais marcantes da nossa vida vêm seguidos de um bom e sólido ponto final (a intempestividade de um “Desaparece da minha vida!” ainda pode ser negociada, mas contra a determinação de um “Desaparece da minha vida.” não há argumentos possíveis).

PS – Numa aula de português, o professor pediu aos alunos para pontuarem a seguinte frase: “Uma mulher sem um homem não é nada”.
Os homens limitaram-se a colocar o previsível ponto final: “Uma mulher sem um homem não é nada.”
As mulheres pontuaram-na da seguinte forma: “Uma mulher. Sem, um homem não é nada.” (think out of the box).

Imagem: retirada do site pnepmacedo2008.blogspot.com

Etiquetas: